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A vila de Ponte de Lima celebra esta quarta-feira 19, mais uma edição da Corrida da Vaca das Cordas, acontecimento único no Continente, apenas com tradição também na Ilha Terceira, Açores, pelo menos de acordo com um estudo publicado em 1901.
Trata-se de uma Tourada á corda segundo alguns populares, uma “ festa única” para outros, ou um “ divertimento fóra de moda “ também há quem assim o classifique!
Contudo, a Vaca das Cordas que hoje assistimos é uma (re) introdução do antiquíssimo costume de correr o cornúpeto na véspera do Dia de Corpo de Deus, usança já documentada nas actas de vereação do ano de 1605, e obrigação para os seus moradores desde 1646, de acordo comas Posturas ou Acórdãos Municipais.
Na arrematação do fornecimento de carne á vila, a adjudicação em tempos idos, pelo menos na segunda metade do século XVII e já na centúria seguinte, obrigava os talhantes a oferecerem o animal, mas com o advento do Liberalismo e outros ideais políticos vigentes no século XIX, a Vaca das Cordas esteve proibida.
Com celebração alternada durante algum tempo, a normalidade no calendário anual de eventos do concelho, teve uma primeira reintrodução cerca de 1935, e duas décadas depois, até que posteriormente retomou cumprimento regular na véspera de Corpus Christi. Mas, o dócil animal, embravecido pela rapaziada e outros, já mais adultos quando era preso á grade da torre sineira da Matriz, foi substituído por um touro bravo, como que uma homenagem às touradas em Ponte de Lima, outro divertimento já referenciado em carta do rei D. João III do ano 1537.
Recordemos agora, alguns intervenientes no regresso da usança Limiana: o Limianista Filinto de Morais, presidente da Câmara por duas vezes, e apaixonado pela terra; o poeta e grande proprietário António Vieira Lisboa, que na sua Casa Dos Da Garrida, hoje pólo da Universidade Fernando Pessoa, instalara a corte para o touro bravo, ou o Conde de Aurora, monografista de relevo e magistrado no Porto, que após a morte do vizinho em 1968, autorizava a recolha do animal nos baixos da sua Casa, véspera da festança…
Na condução das cordas, angariação de fundos e demais intervenção no programa, é justo recordar dois aficionados: Alcino Dantas e Zé Corinheira, cujo neto do primeiro mantém essa função, agora com forte apoio do cofre municipal.
Mas, actualmente, depois da Vaca corrida, a festa continua noite dentro. Entre jantares com amigos ou familiares, convívios de cerveja e petiscos, as comissões de bairro ou rua procedem á feitura dos tapetes, coloridos, decorados com flores, serrim anelinas, etc, porque no dia seguinte, a Procissão de Corpo de Deus vai percorrer todas essas artérias do casco histórico.