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Tal como a nossa característica lusíada, de dobrar, de suportar e vencer "cabos bojadores", também a Goreti os encontrou e os vai superando. Para isso muito tem contribuído a sua paixão pelo Fado! Estou em crer, também de o poder dizer, que a nossa Fadista, de voz e timbre inconfundíveis, é hábil e distinta. É alguém que projeta e dignifica a nossa portugalidade, através do Fado e os valores que lhe estão associados! É também por isso que merece o nosso apoio e carinho, selado nas atitudes de consideração e incentivo. Esta entrevista pretende dar a conhecer o seu potencial artístico e a sua capacidade de adaptação; pelo reconhecimento e valorização do nosso Fado!
1) AF/luso.eu Vir para a Bélgica, foi uma opção natural ou uma escolha premeditada?
MARIA GORETI PEREIRA : Foi uma escolha premeditada, uma vez que me encontrava desempregada há já alguns anos consecutivos sem colocação como professora. Também devido ao facto de ter uma filha emigrada aqui na Bélgica, como enfermeira. Esse fator pesou bastante na balança da decisão e motivação para eu própria tentar a sorte numa oportunidade de trabalho junto dela…
2) AF/luso.eu A sua adaptação e integração correram bem? Gosta de viver neste país?
MGP: A minha adaptação foi fácil, contudo deparei-me e deparo-me ainda, com muitos obstáculos de integração a nível profissional, pois é muito difícil obter as equivalências profissionais no âmbito das minhas competências, devido às inúmeras burocracias e custos de tradução dos diplomas, entre outros entraves. Sabendo que à partida, o domínio da língua estrangeira é, por si mesmo, um dos maiores obstáculos.
3)AF/luso.eu A sua voz, dom natural, começa a ser conhecida e apreciada. Quantos espectáculos já realizou e quais são os apoios e outros incentivos que têm tido?
MGP: Aqui em Bruxelas fiz apenas fiz dois espetáculos e ambos no Café Bel Porto. Contudo o meu historial artístico vem de Portugal…
Relativamente aos apoios, apenas tenho o dos amigos que acreditam no meu talento, principalmente o do Senhor Tony Silva da LusoProductions, mentor do meu projeto do fado. Há outros amigos que me incentivam e motivam para o lançamento do meu projeto de fado; não tenho tido outros incentivos. E deparo-me com muitos obstáculos e outras dificuldades para levar a cabo o meu projeto. Pois investimento financeiro é somente o meu e não tenho ajudas de ninguém a esse nível, nem da comunidade. Apenas o apoio do Café Bel Porto, mais propriamente do seu proprietário Senhor David, que me abriu as portas para poder divulgar o meu talento e promover o fado... E a quem muito agradeço, pois é o único neste momento que me está a apoiar de forma concreta… Mas espero, com o tempo e a abertura do meu Website, encontrar novos caminhos, apoiada por esta importante comunidade e sociedade de acolhimento.
4)AF/luso.eu Reconhecido e apreciado, o Fado, palavra mágica, ocupa em si um espaço e uma paixão... Como nasceu e se desenvolveu essa faceta de gostar e de cantar o fado?
MGP: Desde criança que a paixão de cantar me está na alma. Desde muito cedo o meio artístico e os palcos eram algo que me fascinava e me transformava. Comecei muito cedo a subir aos palcos com o meu falecido irmão José Manuel Pereira, então presidente de um grupo cultural e artístico da localidade. Mas cedo ele partiu e foi com ele a minha hipotética carreira artística que se avistava promissora. Pois a minha rampa de lançamento tinha partido muito jovem, inesperadamente e de forma trágica! E assim fiquei sem apoio... Mesmo depois da sua partida de nada me valeu ter ganho o festival distrital da feira de S. Mateus, com apenas 10 anos de idade, ter sido coroada e terem sido meus padrinhos artísticos a Hermínia Silva e o saudoso Carlos Paião!
Contudo e apesar das adversidades, nunca deixei de cantar, nunca desisti, pois sempre estive ligada às atividades culturais e artísticas, fossem elas de índole pública ou privada. E o fado nasceu da influência da minha mãe desde muito cedo… De tanto a ouvir cantarolar em casa! Também por via do meu pai que sempre andava em festas particulares e entre amigos. O fado era sempre uma boa companhia, para animar as hostes… Sempre amantes e com veia artística familiar!
5)AF/luso.eu Quais os seus projetos, que encara com como prováveis, para o seu futuro artístico, a curto e médio prazo?
MGP: A curto prazo o projeto do fado na Bélgica é a minha pretensão imediata, que me poderá abrir novos horizontes e ir mais além na divulgação da nossa identidade. É um projeto que queria abraçar com todas as minhas forças! Contudo vejo-me a braços com muitos entraves e obstáculos devido à falta de apoio financeiro e à falta de predisposição de algumas pessoas em olharem mais para as questões financeiras do que propriamente para o interesse cultural das nossas raízes. Como diz o velho ditado "a perder se ganha e a ganhar se perde"... São pontos de vista e análise das questões em diferentes perspetivas. Mas sinto uma certa falta de motivação e ajuda da própria comunidade, pois todos acham muito interessante o projeto e apelam para ir em frente, mas não passam das palavras, salvo algumas exceções. Contudo devo acreditar neste potencial, a começar por mim! Pelo que sei e havendo alguma boa vontade, podemos transpor todos os diferendos e ganhar o desafio. Quero agradecer todos os que me animam e me incentivam… Agradeço ainda a quem me deu a oportunidade de me exprimir em entrevista, forma altiva de transmissão dos valores e da cultura fadista.