Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
1958 é a data da fundação do Orfeão de Vila Praia de Âncora, uma associação sem fins lucrativos em que a cultura é a trave mestre do seu caminho. A música coral, as danças tradicionais e o teatro reúnem amigos, sócios e simpatizantes num mesmo ambiente.
Os sonhos e projectos não faltam, apesar de algumas dificuldades financeiras que se vai contornando com a cotização dos sócios, verbas autárquicas e ajudas …
Francisco Presa, presidente do Orfeão de Vila Praia de Âncora, abriu o livro desta associação num relato recheado de história, cultura e paixão. E, também deixa uma palavra à comunidade portuguesa que se encontra emigrada para que não esqueça as suas raízes …
Luso- Quando surge o Orfeão de Vila Praia de Âncora?
Francisco Presa- O Orfeão de Vila Praia de Âncora foi fundado em 17 de Março de 1958, dando sequência a várias tentativas de se formar um grupo coral em Vila Praia de Âncora. A primeira tentativa data dos anos 20 e a segunda, na década de 40.
LP - E com que objectivo?
FP- A criação de um orfeão teve como objectivo encontrar uma forma de os jovens ancorenses poderem ocupar os seus tempos livres.
LP -Quem foi o seu fundador? E que representação tinha em Vila Praia de Âncora?
FP- Foi seu fundador o Pe. José Pereira Lima, então pároco de Vila Praia de Âncora e grande entusiasta da música coral, que, a pedido de 5 jovens ancorenses resolveu promover a criação de um grupo coral. Este mesmo padre já esteve na origem da tentativa de 1947.
LP - Neste momento, quais são as actividades fulcrais do Orfeão de Vila Praia de Âncora?
FP- O Orfeão de Vila Praia de Âncora é uma associação cultural, sem fins lucrativos, que se dedica à prática do voluntariado cultural.
No âmbito do voluntariado, ao longo da sua história dinamizou uma escola de música (hoje transformada na Academia de Música Fernandes Fão, em Vila Praia de Âncora), foi pioneiro em acções de alfabetização e educação de adultos, na criação do primeiro jardim infantil de Vila Praia de Âncora, promove espectáculos culturais, em parceria com a câmara de Caminha ou a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, etc.. etc.
Neste momento tem em actividade um Grupo Coral e um Grupo de Danças e Cantares Regionais.
LP - Qual a actividade actualmente do teatro?
FP- O teatro, de momento, está sem actividade, aguardando uma oportunidade para dinamizar a sua secção.
O Grupo de Teatro ensaia pequenas peças, desde autores clássicos até modernos ou de cariz popular, apresentando essas peças integradas em espectáculos conjuntos com o Coral e o Grupo de Danças.
LP - E como vive o grupo de cantares e danças tradicionais?
FP- O Grupo de Danças e Cantares Regionais do Orfeão de Vila Praia de Âncora foi criado em 1971 e procura fazer uma recolha e dançar as danças tradicionais da sua região, mais concretamente as danças da Serra d’Arga.
E composto por cerca de 40 elementos, entre dançarinos, tocadores e cantores.
Participa, a convite, em festivais ou apresentações folclóricas e em espectáculos com o Coral e o Teatro
LP - E especificamente o orfeão? Número de elementos e idades?
FP- O Grupo Coral tem cerca de 50 elementos, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 25 e os 80 anos.
Dedica-se a todo o tipo de música, desde a música sacra, clássica, popular (com harmonizações de compositores eruditos ou populares), habaneras (música espanhola com origens cubanas), zarzuelas (operetas ligeiras de cariz tipicamente espanhola), música pop, etc.
Tem colaborado regularmente com a Orquestra do Norte, apresentando peças coral-sinfónicas como “Carmina Burana”, de Orff, “Stabat Mater”, de Rossini, variados coros de óperas de Verdi, coros de zarzuelas – neste momento está a preparar um concerto de zarzuelas, a pedido da Banda Municipal de Santiago de Compostela, Espanha, a ser apresentado, com aquela banda, no dia 6 de Outubro no Auditório de Galícia, em Santiago de Compostela.
LP - Francisco Presa é também maestro no Orfeão de Vila Praia de Âncora. Caracterize-me a música do orfeão? E como é feita a sua escolha?
FP-Conforme resposta ao quesito anterior, o repertório é escolhido de acordo com os convites que nos são formulados, nunca esquecendo o ecletismo musical do Orfeão de Vila Praia de Âncora. A título de exemplo, poderemos informar que o coral pode apresentar concertos preenchidos com música integralmente sacra, clássica, música de Fernando Lopes Graça, música popular, habaneras, zarzuelas, etc.
Procuramos escolher o repertório anual, de acordo com os projectos que temos e com a qualidade das vozes presentes.
LP - Quantos sócios tem a associação?
FP- A associação tem cerca de 200 sócios.
LP - Qual o valor da quota? E como ser sócio?
FP- Cada sócio paga uma quota mínima de 12 euros, havendo alguns sócios com quotas superiores. Para ser sócio basta ser proposto por um sócio no activo ou dirigir-se ao Orfeão e preencher uma proposta de sócio.
LP - Como se encontra financeiramente a associação? E, principalmente, sobrevive de …
FP- Como a maioria das associações culturais, o Orfeão de Vila Praia de Âncora vive com as dificuldades habituais, sobrevivendo da quotização dos sócios e de apoios recebidos da Câmara Municipal de Caminha e Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora. Esporadicamente recebemos donativos de pessoas singulares ou colectivas.
LP - Existe algum protocolo estabelecido com a Câmara Municipal de Caminha?
FP- Em 2004, foi assinado um protocolo tripartido entre o Orfeão, a Câmara de Caminha e a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, permitindo, no regime de comodato, a utilização da antiga Escola do Viso, em Vila Praia de Âncora, hoje denominada Casa do Orfeão, na qual desenvolve as suas actividades de ensaio e promove espectáculos.
LP - E o futuro que reserva à associação?
FP- Quanto ao futuro, pensamos que não haverá grandes obstáculos à continuação das actividades da associação. Procuramos encontrar programas que cativem vários tipos de públicos, de forma a justificar os apoios que vamos recebendo das autarquias locais e, assim, garantir a continuidade das actividades do Orfeão. Tentamos recrutar pessoas que gostem de cantar ou dançar, ou fazer teatro, mas nem sempre é possível; por exemplo, neste momento, temos alguma dificuldade em encontrar elementos que queiram integrar o grupo de teatro.
De qualquer maneira, o Orfeão de Vila Praia de Âncora, tem uma dinâmica bastante forte, com participações em espectáculos quer em Portugal, quer em Espanha, principalmente na região da Galiza.
Dada a imagem e notoriedade que o Orfeão de Vila Praia de Âncora tem, vemos com algum optimismo o futuro do Orfeão.
LP - Que mensagem deixaria aos nossos emigrantes?
FP - Alguns dos coralistas que integraram os quadros do Orfeão tiveram, em seu tempo, de emigrar e, sempre que regressam a Vila Praia de Âncora, para férias, vêm visitar o Orfeão.
Dizem-nos que as raízes musicais os ajudam a estar menos afastados das suas origens; por isso, muitas vezes, participam em associações que também desenvolvem actividades musicais, sejam corais, sejam folclóricas. Ainda no mês de Maio esteve em Vila Praia de Âncora um coral francês que integrava um casal de emigrantes desta região.
A mensagem que gostaríamos de deixar a toda a comunidade emigrante é que participem nas actividades culturais da região em que vivem, nunca esquecendo as suas origens, as suas tradições, e que, também, nunca esqueçam, na medida do possível, qualquer tipo de apoio às associações da sua terra natal.