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Caminha - Carlos Videira, eleito nas últimas autárquicas pela coligação PSD/CDS-PP/Aliança/PPM, renunciou ao cargo de deputado na Assembleia Municipal de Caminha por discordar do “caminho” seguido pela direita que “ofereceu uma nova maioria absoluta ao PS em Portugal”.
“Um caminho provocatório, desprovido de qualquer tipo de moderação ou empatia pelos adversários políticos, baseado em questões acessórias, sem uma ideia de futuro, que mobilize e agregue os cidadãos em torno de uma alternativa positiva para uma vida melhor no nosso concelho”, escreve Carlos Videira num artigo publicado no jornal digital regional Caminha2000.
No artigo, intitulado “Razões de uma despedida”, hoje consultado pela agência Lusa, Carlos Videira, que é administrador da BragaHabit - Empresa Municipal de Habitação de Braga, município presidido pelo social-democrata Ricardo Rio, explica que, no mandato anterior, “nunca” foi essa a sua “postura” enquanto representante do partido naquele órgão autárquico.
“Defendi sempre as minhas ideias com urbanidade e respeito pelos adversários. Adversários que reconheceram várias vezes a justiça das minhas intervenções, mas com quem também aprendi. Adversários que admiro e em muitos casos se tornaram amigos, por quem tenho enorme simpatia. Porque, como disse várias vezes, se é verdade que as minhas simpatias pessoais não condicionam as minhas opções políticas, as minhas opções políticas também não condicionam as minhas simpatias pessoais”, refere o deputado do PSD na Assembleia Municipal de Caminha, no distrito de Viana do Castelo e, na Assembleia Intermunicipal do Alto Minho, organismo que agrega dos dez concelhos da região.
A Lusa tentou, mas não conseguiu obter a reação da concelhia do PSD de Caminha, presidida por Liliana Silva. Contactado o líder da distrital, Olegário Gonçalves disse desconhecer o assunto, remetendo para a estrutura local qualquer esclarecimento sobre a saída de Carlos Videira.
Nas autárquicas de setembro de 2021, o PS venceu para a Câmara com 46,79 % dos votos e garantiu quatro mandatos. A coligação PSD/CDS/Aliança/PPM somou 41,36 %, e ficou com três lugares no executivo.
Para a Assembleia Municipal, os socialistas também venceram com 44,03 % dos votos e elegeram 10 deputados, a coligação PSD/ CDS/Aliança e PPM atingiu os 39,85 % e conquistou nove lugares. O PCP e o Bloco de Esquerda elegeram um deputado municipal cada um.
Com 31 anos, Carlos Videira diz que se despede “com tristeza” pelas razões que aponta para justificar o “abandono” das funções de deputado municipal.
“Cheguei, portanto, a um momento em que, perante uma forma de estar tão distante daquela que defendo, não só como correta, mas também como a mais eficaz para que a direita possa voltar ao poder e apresentar um projeto de mudança para o concelho, não me resta, hoje, outra opção que não seja a de entregar o mandato que me foi conferido à coligação pela qual fui eleito”, salienta no artigo.
Carlos Videira refere ainda que o resultado das últimas eleições legislativas não o surpreendeu, por considerar que “a direita deixou de se dirigir aos trabalhadores que recebem salários baixos, aos pensionistas e aos funcionários públicos”, apostando, “única e exclusivamente, no desgaste do Partido Socialista e não corrigiu o erro histórico que representou o acordo com o Chega nos Açores”.
“Ainda no período de campanha eleitoral, Octávio Lousada Oliveira escrevia acertadamente no Semanário Novo: "preocupa-me a atração dos 'tifosi' por uma forma agressiva, truculenta, provocatória, insinuante e até malcriada de participação num momento de capital importância para o esclarecimento dos eleitores”, refere Carlos Videira no seu artigo.
“Nos tempos que correm, de polarização máxima e sensatez mínima, a direita, órfã, deixou-se cativar pela mediocridade. A infantilidade é tida como irreverência. Para a deselegância encontra-se o eufemismo da assertividade. Ao autoritarismo chama-se pulso firme. Na técnica da amálgama argumentativa vê-se fluência e retórica ímpares. A intolerância passou de pecado a virtude. E a predisposição para a ofensa é aplaudida por, alegadamente, representar a recusa de rendição à esquerda, ao marxismo cultural, à ideologia de género, à política de cancelamento, às modinhas, ao príncipe real, aos salões do regime ou ao diabo a quatro", lê-se no artigo de Octávio Lousada Oliveira, invocado por Carlos Videira para sustentar as razões da sua despedida.
“A direita deve retirar consequências e lições para o futuro. A nível nacional, mas também a nível local, que representa o primeiro contacto de muitos cidadãos com o debate e a prática política”, alerta Carlos Videira.