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Conta-me uma história antes de adormecer
Quando ele era criança, sempre que soluçava ou vertia lágrimas, diziam-lhe que um homem não chora. Ele nunca entendeu porque é que os homens haveriam de conter as lágrimas, se as moças podiam verter água sem limite. Sempre que podia, tentava reprimir a vontade de chorar ou então desviava o olhar, quando os olhos ficavam marejados de lágrimas. Outras vezes escondia-se onde ninguém o pudesse ver a cometer o pecado original. Sempre que a bota não batia com a perdigota, quando assistia a um acto de injustiça humana, não se continha e ficava emocionado até chorar como uma Madalena arrependida, sobretudo naquelas situações em que se arrependia de algum erro que tenha cometido.
Naquele tempo em que os homens não choravam e as mulheres não se irritavam, os comportamentos em sociedade eram modelados. Assim se esperava de um que não chorasse, apesar de poder verter lágrimas dentro de casa, onde não fosse visto por ninguém.
Já em adulto, ainda se sente condicionado por chorar em público, fruto da educação que recebeu, mas reconhece que se tal acontecer, provoca uma chamada de atenção por quem passa. Se for uma mulher a chorar em público, quase que passa despercebido.
É esperado de um homem adulto, raiva, persistência, gritos e insultos. Já da mulher se espera sentimentos como felicidade ou tristeza, ansiedade, aperto do coração e fatalismo com fado à mistura.
Uma mulher a chorar é mais do mesmo, mas se um homem exprimir a sua tristeza é porque algo vai mesmo mal e só poderá acontecer qualquer coisa fatal.
Por essa razão os sentimentos da mulher nem sempre têm o mesmo peso e não são levados a sério. As mulheres são vistas como seres emocionais com as suas reacções exageradas.
Quando ele responde rápido às mensagens da sua mulher, mesmo que estejam carregadas de emoções, sabe que o deverá fazer, pois está atento.
Ele está a aprender a chorar junto da sua família, bem como a aprender a interpretar as reacções da sua mulher.
A forma como são vistas as expressões emocionais dele e dela podem ajudar na construção da relação.
O autor escreveu este conto em exclusivo para os leitores do jornal online LUSO.EU
Escreve de acordo com as regras ortográficas anteriores ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. O presente artigo de opinião é da exclusiva responsabilidade do seu autor.
03-Mar-2022