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Almoçámos n’O Legado, restaurante aberto em dezembro de 2022. As especialidades da casa, dentre as quais destaco a vitela assada e o estufado à Legado, são preparadas com carne de bovino de raça arouquesa. Quem tenha preferência de outra ordem, pode optar por polvo à lagareiro, lombo de bacalhau confitado ou arroz de pato à Legado.
Pedi estufado à Legado. Servido em terrina e feito com vitela e seus rabos, revelou‑se um prato papa‑fina. A carne, de alta qualidade, fora cozinhada com apuro, o agrião deu toque feliz ao conjunto. A Jūratė elegeu arroz de pato, que chega à mesa húmido e leva queijo gratinado no topo. Embora priorize a forma tradicional de o cozinhar, sem queijo ou outros arrebiques, gostei deste arroz de pato. A carta de vinhos brilha em matéria de pingas do Dão. Bebemos um tinto dessa região, Quinta dos Carvalhais, de 2019, vinho elegante e a contento do nosso paladar.
O serviço, de bom‑tom, e a sobremesa, petit gâteau de caramelo salgado, com um gelado de pau, alargaram o nosso raio de satisfação.
O adorno, com cores quentes, inclui imagens — penso, por exemplo, naquela em que se vê um tigre — que manifestamente exorbitam do cariz luso e telúrico que a proveniência da carne, a ementa e a carta de vinhos sugerem. O espaço é, ainda assim, agradável.
No segundo dia que devotámos a Viseu, fomos almoçar ao Palace, um palácio da boa xira.
Nesta casa, o papel principal é deferido aos petiscos, petiscos a partilhar entre os que ali refeiçoem. Da carta de sabores constam, entre outros: peixinhos da horta; castanhas salteadas, bacon e tomilho; queijo de cabra caramelizado, mel e tomilho; folhados de queijo da serra, mel e nozes; robalo, arroz de forno e berbigão; chocos panados com molho de iogurte e lima; açorda de gambas e coentros; gambas crocantes e geleia picante de citrinos; tiras da vazia com molho de queijo da serra.
Quem queira permanecer fiel ao prato substancial, pode escolher, por exemplo, o risoto de cogumelos e trufa fresca, o arroz caldoso de robalo e espargos verdes, o naco da vazia com molho de queijo da serra ou o folhado de cabrito assado do Caramulo.
Em Roma sê romano, atacámos os petiscos. Sugeriram‑nos que pedíssemos dois por pessoa, elegemos peixinhos da horta, folhados de queijo da serra, mel e nozes, robalo, arroz de forno e berbigão, e chocos panados com molho de iogurte e lima. E tudo o que desfilou sob as nossas abóbadas palatinas corporificava o primor. A Jūratė registou ainda o paparico da novidade, nunca ela havia visto ou conjeturado a existência de «peixinhos da horta».
A sobremesa, tarte de caramelo salgado e pipoca, soube‑nos bem e é agora a única forma de me fazer comer pipocas.
Os vinhos cumpriram a sua missão. A Jūratė bebeu um branco preparado com uvas de encruzado, casta de videira caraterística da região do Dão, e eu, que por razões de saúde quase não bebo vinho branco, optei por um tinto do Dão, produzido a partir de touriga‑nacional. Uma pinga da adega Niepoort, de 2019, fresca e com retrogosto longo.
Os anos e a experiência morigeraram a minha capacidade para proferir elogios, sobretudo se dirigidos a pessoas. O leitor pode, pois, levar‑me a sério: neste palácio, mora a mão de um grande mestre‑cuca.