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Em Aljezur, a arte culinária avantaja: o sargo, de carnes gordas e macias, pescado nas proximidades, e também a dourada e o robalo; os percebes; o mel, de rosmaninho, urze ou medronheiro (o último é empregue sobretudo na produção de licor); a aguardente de medronho, que tanto se bebe fresca como à temperatura ambiente; a batata‑doce, usada na preparação de sopas, purés e sobremesas, apresentada em guisa de guarnição ou servida frita em rodelas, com açúcar e canela. Na zona, ganha destaque a lira, uma variedade de batata‑doce com polpa amarela e casca púrpura ou vermelha.
Jantámos na cervejaria Mar, estaminé com pessoal simpático e decoração condizente com a oferta gastronómica, na qual o marisco e o peixe dão cartas. Naquela noite, o chefe sugeria arroz de tamboril com lavagante, arroz de lavagante e ainda filete de robalo confitado. E propunha, ademais, arrozes diversos (de marisco, de tamboril, de robalo, de lingueirão, de polvo), massa de marisco e massa de tamboril, cataplanas, caris (de gambas, de lulas), ostras e bife à Mar.
O arroz de lingueirão, porventura o melhor que já provei, parecia alimento celeste: caldoso e com tempero esmerado, uma fartura de arroz e navalheira, algumas gambas.
A sala onde comemos achava‑se repleta e eu era o único cliente português, estória que se repetiu noutras casas de comes e bebes da região. Várias pessoas, incluindo gestores do setor horeca, me disseram que, em função da boca e da carteira dos turistas estrangeiros, foram criados e continuam a operar muitos dos bons restaurantes do Algarve.
Almocei duas vezes no Várzea, só o posso elogiar.
Por ocasião da primeira visita, comecei com zaalouk, uma iguaria caraterística de Marrocos, com base de beringela, que chegou à mesa condimentada sem exageros. Prossegui com a especialidade da casa, inverosímil em Aljezur: lombo de leitão grelhado em brasas de azinho, com batata frita e salada. O bácoro apresentou‑se em nacos pequenos, tenro e saído da mais certa das cocções. Terminei com bombons de batata‑doce, sobremesa que juntava requinte e apelo à terra.
Atendeu‑me uma jovem búlgara, que deixara as origens acompanhada pelo namorado. Queixou‑se da pátria natal, dos salários, da vida que piorava, da falta de perspetivas para a gente nova. Sobrerrestam poucos, mas ainda há na União Europeia países com nível de vida inferior ao de Portugal.
Noutro vagar em que lá fui, elegi creme aveludado de abóbora com cobertura crocante de amêndoa amarga, bochechas de porco à Várzea (bochechas de porco preto de Monchique, estufadas em vinho tinto e escoltadas, inter alia, por puré de aipo e batata‑doce) e tiramisu. Uma vez mais, estive nas minhas sete quintas.