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Como se de um sentimento de rebelião se tratasse, queremos mudar o mundo. Atrevemo-nos a acreditar num mundo melhor e, sem medo, desejamos contribuir para esse objetivo.
Uns acreditam que por mais esforço e dedicação que alguns tenham, não serão suficientes para fazer a diferença; outros dizem que a solução não se encontra nas mãos das pessoas, pois estas não serão capazes de fazer frente aos interesses políticos; outros remetem para o facto de haver tanta coisa a ser mudada. Portanto, como começar?
E por onde começar? Por compreender.
No seu mais recente documentário “Uma vida no nosso planeta”, o naturalista britânico David Attenborough refere que só podemos ser defensores do mundo natural na medida em que nos tornamos conscientes dele. O saber ver a realidade cristalina, sem filtros que confortem a nossa perceção, só é possível a partir de uma grande abertura mental e de espírito. Seja pelo afeto que sentimos ou apenas pela compreensão da escala do problema, a subjetividade humana é o motor de qualquer mudança que possa haver no mundo.
Félix Guattari (1930-1992), conhecido pelo seu contributo nos campos da filosofia e da psicanálise, encontra na deterioração progressiva das relações pessoais e sociais dois problemas complementares ao da ecologia. No fundo, segundo o próprio, são estes três territórios em que existimos, o do ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana, que deveríamos domesticar, como esclarece no seu livro “As três ecologias”, publicado em 1989.
Olhar para o fenómeno ecológico de forma separada do contexto social e da subjetividade pessoal seria reduzi-lo a algo que apenas se encontra exterior a nós. Esta compartimentalização de conceitos é falaciosa, sendo que se transforma numa perspetiva reducionista de um problema que engloba uma pluralidade de conceitos. Do “eu” parte toda a conceção da nossa existência no mundo, que é determinada pela nossa experiência social. A partir da nossa perceção no meio em que vivemos, podemos pensar em que circunstâncias queremos existir. Parte, assim, da subjetividade pessoal, a aptidão para nos projetarmos em larga escala no espaço, no tempo e na sociedade.
O conceito de ecologia, de ambientalismo ou de sustentabilidade, encontra-se reduzidamente associado a uma minoria de amantes da natureza ou de especialistas na área. Torna-se alvo de inquietação quando o assunto “verde” é levantado numa conversa informal. O que cada um acha que faz de sustentável continua a fazer parte de um fenómeno opinativo, além de, muitas vezes, ditar um estatuto, pois já falamos destes conceitos com alguma superioridade.
Não podemos confinar estes conceitos a determinadas pressuposições, estatutos nem profissões. Também não podemos ensinar algo novo a alguém fazendo-o perceber que não sabe, excluindo-o do processo. A inteligência na instrução parte por englobar todos na descoberta do desconhecido, em que juntos poderemos fazer a diferença face a um problema. A explicação que vem por meio da exclusão, do " tu não sabes”, "devias saber" ou "devias fazer", causa ainda mais conflito na apreensão da nova matéria, porque para além da mensagem não ser clara, esta não será apreciada nem divulgada pelo aprendiz.
As cadeias de informação humana estagnam-se quando não se estimula o interesse nem a curiosidade da pessoa com quem partilhamos os nossos pontos de vista e bloqueamos a possibilidade desse conhecimento crescer, devendo, de pessoa para pessoa, ser exponencial.
Não há nada de extraordinário em sonhar com um mundo melhor. Também não há grande dificuldade em lutar por isso em pequenos ou largos gestos, uma vez apreendida a extrema necessidade de o fazer. Temos de nos reapropriar do nosso Universo, que é de cada um de nós, com o mesmo direito pleno e encontrar consistência na nossa liberdade de intervir singularmente.
Não se trata de um ato de misericórdia, nem tão pouco de um ato de superioridade. Querer ser um pouco mais sustentável, ambientalista, ecologista ou ativista, faz fundamentalmente parte da consciência mais plena de ser humano.