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Por uma questão de bom senso, tento proteger as minhas poucas poupanças da corrosão causada pela inflação. Ou seja, o meu único objetivo no mundo dos investimentos é que o escasso dinheiro que tenho de lado para a minha reforma não se esfume pelo correr do tempo. Para isso, tento investir em soluções que garantam, com um risco mínimo, um rendimento de um por cento ao ano. Pretendo viver sempre do meu trabalho e não das engenharias financeiras capitalistas. É um mundo que não me interessa absolutamente nada.
Em meados de 2019, referiram-me um estudo científico britânico que garantia que as ações da EDP Renováveis estavam subvalorizadas na Bolsa. Pensei para mim próprio que, se estavam subvalorizadas, havia uma boa probabilidade de subirem. Se isso acontecesse, de acordo com o estudo, iriam subir de cerca de 10 euros para mais de 12.
Enchendo-me de coragem, investi uma pequena verba e esperei. Passado meses, com algumas oscilações, a valor por ação chegou quase aos 11 euros e eu considerei que já estava muito bom. Vendi e o meu tempo de investidor na EDP Renováveis acabou com um rendimento de cerca de 3% em seis meses, depois de descontados os impostos, as taxas e as despesas de mediação.
Refiro este meu mergulho no mundo da Wall Street nacional para realçar um facto muito interessante. É que, hoje, as ações da EDP Renováveis estão a 23 euros. Em exatamente um ano dispararam de 11 euros para 23. Se eu soubesse…
Não sou muito de ficar a chorar sobre o leite derramado, mas interessa-me compreender o que se passou. De facto, neste momento, como acontece com empresas como a Tesla e outras, o valor das suas ações reflete mais a expectativa futura do que o valor real no momento.
Estando alguns dos principais dirigentes da EDP Renováveis sob investigação das autoridades judiciais, o que pode justificar esta expectativa? Não deveria ser exatamente o contrário?
A resposta encontrei-a num artigo do Jornal de Negócios “Esta forte valorização dos títulos do Grupo EDP (ambas as cotadas atingiram máximos históricos) acontece em contraciclo com a bolsa nacional que, tal como outras congéneres europeias, desvalorizaram este ano com o impacto da pandemia. E é explicada, em grande parte, pelas expectativas em torno do Pacto Ecológico Europeu.”. Uma publicação internacional, o investing.com, reforçava, “One of the most popular bets in Europe's stock markets this year has been to buy into a Green future”.
Parece-me evidente que a aposta da Comissão Europeia no seu Green Deal (“Pacto Ecológico”, em português) está a ter eco no mercado de capitais. O futuro sustentável e verde está a começar e entra em 2021 com um folego notável. Para quem tinha dúvidas sobre a adequação económica da aposta das instituições europeias, os empresários esclareceram com aquilo que mais prezam em termos profissionais: dinheiro!
A outra grande aposta da Comissão Europeia é o Digital, onde a supercomputação e a inteligência artificial tomam um lugar preponderante. Tanto a aposta Verde como a Digital incluem diversas declinações. Estas declinações incluem, por exemplo no campo da agricultura do Pacto Ecológico Europeu, a estratégia “do prado ao prato”. Nela, encontram-se objetivos muito claros para o aumento da área de agricultura biológica, para a diversificação de culturas, para o reforço do bem-estar animal e para a redução da utilização de aditivos químicos artificiais. Outra declinação, a “biodiversidade 2030”, aponta para necessidade de aumentar as zonas protegidas.
O aumento de zonas protegidas pode, à primeira vista, nada ter a ver com o mundo económico… Nada mais errado. As zonas protegidas, como bem temos notado nos Açores, abrem avenidas para o investimento no turismo ecológico.
Portanto, tendo em consideração estes e muitos outros pontos destas iniciativas europeias, há que planear a estratégia de países, de regiões, de empresas e mesmo a nível individual. A Comissão Europeia afirmou que o futuro da Europa iria ser Verde e Digital e o futuro está já a ser mais Verde e, em breve, será ainda mais Digital.
Este é o tempo de apostar nas soluções que ajudem a responder aos desafios globais criados pela poluição e pela sobre utilização dos recursos. Com base nos objetivos estabelecidos a nível mundial, como os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas e o Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas, e europeu há que planear e fazer acontecer o futuro. É isso que as futuras gerações esperam de nós.