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“Temos que aceitar todos como são e ir ao encontro das suas necessidades!”. Esta é uma das frases que mais ouvimos e vemos o seu reflexo nos dias de hoje. Ora que visão romântica, bonita, humanista, e, tentadoramente tendenciosa. É que não sei se já parou para pensar nisto, mas podemos estar a contribuir para uma desvirtuação de questões importantes da nossa sociedade como a honra, compromisso, resiliência, adaptação aos diferentes contextos. Em suma, uma subversão da realidade e uma contribuição para a perpetuação da síndrome do(a) “coitadinho(a)”.
O nosso país foi assolado por um ataque à democracia que desencadeou uma das mais conhecidas e respeitadas revoluções: o 25 de abril. Até essa data – pelo que aprendi, pois, tive a sorte de não viver nesse tempo – a individualidade não era claramente prioridade dos programas educativos, nem das políticas que se praticavam. Naturalmente esta não é uma abordagem desejável e não abona no bem-estar das pessoas, logo, a genialidade de cada um ficará muito mais dificultada.
Mas estamos a entrar, cada vez mais, no extremo oposto disto e não me parece também desejável. A individualidade deve ser tida em conta nos métodos utilizados para desenvolvimento do ser humano, mas as exigências (académicas e sociais, pelo menos) devem ser mantidas num nível que beneficie o bem-estar e desenvolvimento. Individualidade sim, “baboseiradas” não!
As escolas são frequentemente catalogadas segundo rankings que alimentam os egos de algumas pessoas. A utilização do “feedback positivo” é imperativa a um ponto que hoje em dia ser sincero é visto como falta de sensibilidade. Corrigir o comportamento do aluno não é um ad hominem (ataque à pessoa). Fingir que está tudo bem passando um aluno de ano sem que este tenha bases académicas e sociais para tal, é “empurrar um problema com a barriga”. Mais cedo ou mais tarde o aluno sentirá as consequências dessa falta de bases. E se não sentir, na mesma, corremos o risco de sermos governados num futuro próximo por perfeitos incompetentes... criados por nós! Claro que há casos de necessidades educativas especiais e esse devem beneficiar de uma adaptação ainda maior! Mas deixo a pergunta: porque não podemos também tentar que esses alunos desenvolvam as suas melhores performances? Se os tratarmos como “coitadinhos” é nisso que os iremos transformar.
As políticas adotadas privilegiam a aceitação de todos. Até aqui tudo bem. Mas não pode ser a qualquer custo. A individualidade não pode ser razão suficiente para justificar a falta de capacidade e esforço por cada um se enquadrar num meio. Por exemplo: se eu tivesse sido criado num ambiente onde as pessoas cospem na mão antes de cumprimentar, e o fizesse antes de o cumprimentar a si, você teria que me aceitar como eu seria só porque eu tinha esse hábito e na minha cultura isso era considerado normal e desejável? Deixar um ser humano perpetuar um comportamento só porque “ele é assim” mesmo sabendo que não se adequa à sociedade em que está inserido ou ao seu benefício futuro, é eticamente condenável.
Vejo cada vez mais uma falta de capacidade para gerir frustrações. O bebé que pede um bombom e nunca ouve um não, que faz uma asneira e não tem um castigo, que tem quase sempre (ou sempre) aquilo que quer, não aprenderá a gerir a frustração que isso provoca. Um dia na fase adolescente e início da idade adulta terá mais dificuldades em gerir esses sentimentos negativos. Uma relação amorosa que não dá certo ou um despedimento podem desencadear um suicídio. Já vimos isto acontecer infelizmente. Isto preocupa-me, pois, vai afetar a saúde mental num futuro próximo e custa-me ver gente nova a desistir de viver.
Respeito a individualidades e defendo que os métodos e políticas devem garantir oportunidades a todos. Porém, não concordo com o exagero na diminuição da exigência dos padrões mínimos de sociabilização e educação. Pintar um mundo cor de rosa não altera a cor do mundo, simplesmente a forma como se quer fazer acreditar que ele é só para não “ofender o(a) coitadinho(a)”. Mais tarde, a vida não tem pena e trará a adversidade na mesma. E se o ser humano não tiver desenvolvido competências para enfrentar a adversidade? A apatia já se começa a ver em muitos jovens. É assustador a falta de vontade por lutar por um futuro. O pensamento crítico é cada vez mais raro. A capacidade filosófica para argumentar e o nível cultural da nossa sociedade são fracos. Isto está bom para quem quer estar no poder sem ser questionado. Para formar carneiradas que aceitam tudo o que lhes põe no prato entretendo com escândalos nas redes sociais e teorias da conspiração reacionistas.
É urgente mudar de abordagem! Tristemente acho que já não vamos a tempo de alguns casos perdidos, mas podemos não perpetuar o erro que andamos a cometer. É preciso ensinar, desde criança, que todo o comportamento tem uma consequência e não ceder só porque vemos uma lágrima ou uma testa franzida. A vida não é que nós queremos que seja. A vida é o que é! Resta-nos ensiná-los a se adaptar. Isso exige honra, compromisso, resiliência, adaptação aos diferentes contextos...