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Desde há muito tempo que sou defensor de um único mandato, de sete anos, para o Presidente da República. Este meu propósito vem da análise que faço do exercício do cargo de Presidente da República nos últimos anos. Escrutinando os últimos Presidentes da República, verificamos que o primeiro mandato nada tem a ver com o segundo, ou seja, num primeiro mandato fazem tudo para não afrontar o Governo e para ser reeleitos, trocando o supremo interesse nacional pelo seu interesse pessoal.
Foi assim com Soares, primeiro mandato simpático para com o Governo, segundo mandato de ataque cerrado ao Governo do PSD, de desgaste constante, abrindo o caminho para o PS ganhar as eleições legislativas que se aproximavam. Sampaio foi ainda mais longe, inovando ao ponto de, no segundo mandato, ter destituído um Governo de maioria absoluta, coisa nunca antes vista. Cavaco, talvez tenha sido o mais coerente nos dois mandatos.
Agora temos Marcelo, que não fugiu à tradição dos seus antecessores. Fez um primeiro mandato de simpatia e apoio ao Governo, tudo pensado e feito, de modo a garantir tranquilamente a sua reeleição com o apoio do Partido Socialista. Pela primeira vez, em democracia, o PS não apresentou candidato próprio, às eleições presidenciais, estendendo a passadeira vermelha a Marcelo.
Claro que, agora, reeleito e não precisando mais do apoio do PS, Marcelo muda de atitude e passa ao ataque ao Governo, procurando o seu máximo desgaste.
Marcelo do segundo mandato, rapidamente se esquece das funções que desempenha e decide voltar ao terreno dos mexericos, da intriga política, terreno em que se movimenta melhor do que qualquer outro político e em que é mestre. E é assim, que ficamos a saber, pela comunicação social, que o Presidente da República se meteu no processo da escolha de Carlos Moedas como Candidato do PSD à Câmara de Lisboa. Segundo a imprensa, “o Presidente teve conversas e fez telefonemas, mobilizando quem pôde para ajudar a o ex-Comissário Europeu a aceitar o desafio de uma candidatura à capital”. É claro, confiando na palavra do Presidente, que não foi ele que plantou a notícia na imprensa, jamais seria capaz de tal coisa…
E Marcelo, do segundo mandato, apaga, o Marcelo Professor de Direito Constitucional, e decide promulgar três decretos relativos a apoios sociais, que violam claramente a norma travão inscrita na Constituição da República Portuguesa. Mas agora isso já não interessa a Marcelo, o que lhe interessa é fazer guerrilha ao Governo, desgastar o governo no sentido de beneficiar o PSD. Todavia, Marcelo comete um erro de análise, porque este PSD, com Rui Rio, nem com estas “vichyssoises” consegue causar preocupações ao PS e a António Costa.
E pior, se Tribunal Constitucional decidir pela inconstitucionalidade das normas, Costa, hábil jogador político, aparecerá de imediato com uma solução política constitucional, que permitirá manter esses apoios, aparecendo, aos olhos de todos, como político com preocupações sociais, com rigor financeiro, defensor da legalidade, mas que não esquece os Portugueses em tempos de crise
Depois de tudo isto o que mais irrita em Marcelo é vir com aquele ar, paternalista, de superioridade em relação a todos os outros, dizer não contem com ele para crises políticas. Não tenho dúvidas de que o que Marcelo mais ambiciona, no curto prazo, é uma verdadeira crise política, e tudo fará para que isso aconteça, de modo a ser ele a geri-la e aparecer aos olhos dos portugueses como o grande Estadista, que não é, nunca será. Como bem disse há uns anos, Manuel Maria Carrilho “Marcelo é pura gelatina política”.
Fernando Vaz das Neves
(Artigo escrito de acordo com a antiga ortografia)