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Quando escrevi o artigo anterior, o último caso conhecido no Governo era o caso Alexandra Reis, que levou à demissão do Ministro Pedro Nuno Santos e do Secretário de Estado, Hugo Santos Mendes. Mas, como estamos perante um governo hegeliano, que está sempre em devir, rapidamente apareceu um outro caso.
O Caso Carla Alves, que tinha acabado de tomar posse como Secretária de Estado da Agricultura e, terá sido, em democracia, a pessoa que menos tempo esteve como membro do Governo. O Caso em apreço é paradigmático, sob alguns pontos de vista: o Primeiro, da parte de Carla Alves, que ao ser convidada para o cargo em questão, e sabendo ela dos processos em que estava envolvida, deveria ter recusado o convite.
Mas por vezes a vaidade sobrepõe-se à racionalidade. O segundo tem a ver com o convite. Custa-me a acreditar que a Ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque, não soubesse, como diz, do caso em questão. É estranho para quem, como ela, anda há tantos anos na política, não soubesse de nada, até porque a notícia do arresto de bens é de Março de 2022. Mas, se em tese posso admitir que ela não soubesse de nada, já não acredito que o Primeiro Ministro, António Costa e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nada soubessem. Assim, quando a Ministra da Agricultura propôs o nome de Carla Alves, António Costa deveria ter dito à Ministra que não aceitava tal nome. No fim da Linha, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deveria ter informado o Primeiro Ministro que recusava dar posse à Secretária de Estado em questão.
Mas Marcelo, tal como o escorpião, não resiste a uma boa picada. E foi isso que aconteceu. Marcelo deu posse a Carla Alves como Secretária de Estado, para logo de seguida, quando confrontado com a situação, afirmar: Carla Alves tinha “limitações políticas”, recaía sobre ela um “ónus político”, que “era um peso político negativo”, e que devia “formular um juízo sobre si própria”. Tal como a história da rã e do escorpião, Marcelo picou mortalmente Carla Alves. Picou, porque essa é a sua natureza. Se António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa tivessem exercido, com lealdade, as suas funções, nada disto teria acontecido e teriam poupado o país, e a democracia, a este triste espectáculo.
Perante esta degradação do clima politico, o Governo, como sempre, em cima do joelho, sem pensar devidamente no assunto, decide avançar com “medidas” para evitar situações futuras. “Medidas” que não passam de um questionário, mal-amanhado, que deverá ser preenchido, obrigatoriamente, pelos futuros membros que venham a ser convidados para o Governo. Um questionário a que o comentador, o político, a fonte, Marcelo Rebelo de Sousa se associou, uma vez que a Presidência da República não se poderá associar, pois, a presidência, não tem qualquer competência na escolha dos membros do Governo.
Para ajudar os candidatos a preencher o questionário, com verdade, o Governo irá, certamente, criar um conjunto de linhas telefónicas de apoio, nos diversos órgãos de investigação criminal, de modo a esclarecer os candidatos se sobre eles recai, ou não, qualquer investigação criminal.
Se era para isto, era preferível colocar os futuros Governantes, a responder ao questionário de Proust, pelo menos é muito mais divertido e ficaríamos a saber alguma coisa sobre a personalidade, ou os desvios dela, de quem no Governa.