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“Não sou o melhor, sou diferente.”
Veio como um golpe, aquela notícia que anunciava a morte do querida Zé Cachadinho, um homem do povo, vulto da tradição Minhota. Fomos apanhados de surpresa e nem queríamos ter a certeza! De uma amargurada participação, que provocou grande consternação.
Morreu o Zé Cachadinha, homem popular e de proximidade; nas festas populares, nos encontros fortuitos, nas ardilosas desgarradas, nas tocatas que só ele sabia executar, na borga sem fim, qual querubim da alegria espontânea, no companheirismo e amizade… Ele era na verdade, tudo isso e muito mais! As redes sociais e outros meios de comunicação repercutiram, de imediato, assertivos elogios ao amigo, que nos deixa demasiado cedo, ícone da mais genuína tradição popular.
O seu jeito de estar, o estilo singular do seu tocar, - fazia o que queria da concertina, a sua maior amiga - a forma inédita daquele astucioso cantar, o brilho no olhar, nomeadamente quando notava, que espalhava alegria cativando a multidão que o seguia com paixão… O Zé não resistia à força da magia e logo soltava, mais uma quadra do seu talento, de toda aquela imaginação. No terreiro, a exultação, com natural apreciação provocando apetecidas gargalhadas, seguidas dos efusivos aplausos, que certificavam a importância da quadra, tantas vezes matreira; era o seu deslumbrante estilo, interpelante e atrativo! Uma vida, toda ela votada à tradição, quer pela paixão e o toque da concertina, que maneava com agilidade, quer pela vocação poética expressa no seu característico cantar.
Por tão expressivo talento e propensão popular teve o ensejo de estar, junto daqueles que sempre o estimaram, pelo país, mas também junto da diáspora portuguesa! Nas mais significativas Festas e Romarias de Portugal com destaque para as "suas Feiras Novas", São Bartolomeu, Ponte da Barca e Senhora da Lapa, Arcos de Valdevez! Sempre com forte adesão popular... E claro, nos quatro cantos da terra, em lugares e momentos oportunos, dignos e dignificantes.
Verdadeiro Embaixador da mais genuína tradição representava, com entusiasmo e alegria, Portugal e o orgulho de ser do Minho! Provocando em cada circunstância, uma certa metamorfose; com ele, ninguém podia estar contristado ou abatido! O Zé Cachadinha era a expressão natural do otimismo, da sabedoria e da perspicácia. Prova disso foram as suas mais recentes deslocações ao estrangeiro, nomeadamente a Choisy-le-Roi, em finais de Abril; pelos Estado Unidos, Newark nomeadamente; na Europa, Luxemburgo e Londres. E tinha um desejo: poder cantar em Bruxelas, para eles e sobretudo para elas! “Não hei-de morrer sem ir a Bruxelas, num ou dois espectáculos” - assegurou, pouco tempo depois da sua ida a Inglaterra, Março de 2018; estava na agenda, mas o destino traçou outra história!
Do Zé Cachadinha podíamos dissertar sem fim... Fica apenas este pequeno registo de apreço e de gratidão, em jeito de homenagem. Num perene reconhecimento e admiração, pelo seu enorme legado sociocultural, que devemos manter e preservar! Obrigado grande Zé, por nos teres provocado tantos e bons momentos, de boa e genuína alegria. De tudo, valeu o que contigo se (con)viveu!
Eternamente gratos pelo que eras e continuarás a ser, naqueles que partilham dos mesmos sentimentos e valores, alma do nosso povo!
Luso.eu | Jornal Notícias das Comunidades