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Pedro Lopes Adão nasceu no centro do Porto em 2001. Frequenta a Faculdade de letras da Universidade do Porto. Desde muito cedo começou a interessar-se pela palavra e principiou a leitura de autores como Nietzsche, Virgílio Ferreira, Gustave Flaubert, entre outros clássicos da literatura Portuguesa e universal, ainda adolescente.
SML - Todos nós, num determinado período da nossa vida, temos de escolher o que queremos ser e fazer em termos pessoais e profissionais. Em que momento da tua vida sentiste essa vocação para a literatura?
PLA -A vocação para a literatura surgiu após três configurações fundamentais do meu ser. A primeira foi a aceitação de que não me enquadrava num sonho velho, o ensino, que desde menino dizia querer seguir a carreira de professor, porventura lapidado pela sapiência que sempre me rodeou na família, abrangendo a filosofia, a enfermagem, etc. A segunda sucedeu-se numa espécie de 'super-momento', quando o título "O Príncipe", de Maquiavel, me fez agarrar o livro e, na altura, inquiri o meu tio sobre o filósofo e regateei com ele a compra: ainda hoje devo muito a esse livro, pois despertei a consciência literária. Por fim, e não menos importante, - na mesma altura de Maquiavel (teria eu 15 anos) - o contacto com a poesia de António Nobre levou-me, no Colégio de Ermesinde, a andar com um caderno preto sempre na mochila, para escrever compulsivamente versos e prosas de toda a sorte.
SML - A tua paixão pela literatura e especialmente pela poesia levou-te a realizar o sonho de editares o teu primeiro livro. Fala-nos um pouco sobre essa experiência, como foi recebido pelos professores, pelos teus colegas e pelo público em geral?
PLA -Curiosamente eu tinha fobia do mundo da edição, isto porque implicava a organização do trabalho e alguma formalidade - fosse por chancela própria ou de outrem -, assim como ao nivelamento de um critério para que se constituísse o objeto 'obra'.
Acabei por construir o 'Palavra em Queda' com um corpo de vinte e cinco poemas que só muito depois se tornou na versão definitiva que tendes para ler; e tal surgiu-me entre a razão e o fulgor, lendo um Eugénio de Andrade que me ofertaram enquanto atravessava um ano menos bom da minha vida: pouca saúde, enfim...
Ao pedires-me para falar na receção do livro tenho de ser franco. Não vendeu muito, embora a minha aparição pública tenha sido notada pelo Jornal de Notícias e pelo Voz Portucalense. Além do mais é o binómio habitual - tive muitas palmas e outras tantas de pura encenação: os verdadeiros interessados na minha escrita não costumam fazer muito barulho, antes caminham silenciosamente: tudo o mais é tambor!
SML- Pedro, a tua escrita é uma prática diária?
PLA- Nunca acordo com a premissa de que vou escrever; há dias sem palavras, e esses são preciosos, porque outros exigem-me tanto ao ponto de o sono ser uma atribulação para o labor.
SML- Para além dos livros de poesia, também organizas antologias, ensaios com investigadores e escritores consagrados, queres falar um pouco sobre essas parcerias e projetos?
PLA- Falo-te, claro. Sinto-me um sortudo, sabes? Já tive a oportunidade de conhecer muitos escritores da 'velha guarda' e incumbentes: muitos tornaram-se contactos permanentes, amigos, correspondências por carta, até, coisa rara no século digital. E neste trilho fui participando aqui e ali com alguns textos meus, para projetos deles, o que me incentivou a criar um conjunto de antologias, das quais uma já está feita e outras sairão em 2024 e por aí em diante.
O que mais me corta a garganta, Sílvia? Esta primeira que lancei, 'Alguns ensaios de quê? Em homenagem a Ana Luísa Amaral' - um livro delicioso de conteúdo da nova geração de escritores, poetas e investigadores, que está a ser requisitado para os reportórios das Universidades de Harvard, Princeton, Chicago, Georgetown, Hamburgo, Munique...e a Universidade do Porto? e a minha cidade? - passou completamente despercebido o que está a dar cartas lá fora: nem um exemplar na minha Alma Mater. Mas como diz o Rentes de Carvalho 'As razões dos meus sucessos são as razões das minhas angústias', mais coisa menos coisa.
SML- Pedro tens 22 anos, estás a percorrer o caminho que escolheste e sentes-te realizado, ou seja, a fazer o que gostas. Num tempo onde a informática reina, o que aconselhas aos jovens que se sentem vocacionados para as artes e para as letras?
PLA- O meu principal conselho é seguirem a vocação sem desanimarem por contingências sociais e/ou familiares. Todos os ramos apresentam as suas dificuldades e exigências; a tecnologia, a meu ver, não pode ser vista como a grande praga contra o humanismo, pois, como em tudo, a sua devida aplicação ajuda, e muito, a superar dificuldades que os nossos antepassados enfrentaram: nunca foi tão fácil, por exemplo, aceder à literatura mundial, a ensaios de estudiosos, a reproduções belíssimas de quadros. Tudo pode trabalhar em harmonia.
SML- Para terminarmos a nossa entrevista, és capaz de definir o que é a poesia?
PLA- Institucionalmente a definição de poesia começa simples até se abrir ao “lato sensu”, mas nunca deixarei de a conceber como um modo de convergência da minha alma com uma determinada paz. Em rigor, a poesia é o estilo, a maneira, a forma prática e ao mesmo tempo espiritual onde todas as preocupações se conseguem unificar momentaneamente até chegarem ao leitor, que, cativado, aberto a recebê-la, irá transcendê-la ao questionamento, porventura inquietar-se e propor desses mesmos versos outros como resposta ou, então, hipóteses poliédricas na demanda da sua verdade.