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O vocábulo Filosofia, nos dias que correm, tem sido, aparentemente, banalizado, quando é utilizado de uma forma utilitarista, no sentido de dignificar, dar maior relevo, a uma certa postura social, profissional e institucional: aquela pessoa tem uma filosofia de vida excelente; aquele indivíduo tem uma ótima filosofia de trabalho; o governo aprovou uma nova filosofia para a saúde; os portugueses aderiram às filosofias agrícolas comunitárias ou os brasileiros assumem-se com uma filosofia de vida feliz em cada dia, etc. Ora, se por um lado, invocar, a propósito de tudo, a Filosofia para fundamentar e justificar determinados atos, medidas e situações, isso constitui, afinal um reconhecimento geral, quanto à necessidade da sua existência.
A imagem que normalmente nos chega, desde os tempos remotos da antiguidade, sobre o aspeto físico do filósofo, é a de um homem maduro, a caminho da velhice e um semblante circunspecto, compenetrado, responsável. Por outro lado, ainda hoje se verifica, em muitas comunidades portuguesas, a existência do “conselho de anciãos”, constituído por pessoas de idade avançada, imensas experiências vividas e conhecimentos tradicionais, com uma base filosófica muito acentuada, a denominada “filosofia popular”, o bom-senso.
Contemporaneamente, na perspectiva de alguns autores, concretamente Deleuze, que uma vez mais se convoca para a discussão, verifica-se que há um recuperar do vocábulo “amigo” para a partir dele se chegar ao conceito de filósofo, como o que, classicamente, já se vinha defendendo: «Amigo da Sabedoria», evoluindo-se, então, para outros termos tais como “amante”, “pretendente” e “rival”. O filósofo terá, então, de ser o amigo do conceito quando se admite que a Filosofia é a disciplina que consiste em criar conceitos.
Assim sendo, os filósofos não só, não devem aceitar os conceitos que lhes são dados, mas também e principalmente: «...é necessário que comecem por os fabricar, os criar, os formular e persuadam os homens a recorrer a eles... (...) Estamos pelo menos a ver aquilo que a Filosofia não é: não é contemplação, nem reflexão, embora possa ter julgado ser uma ou outra, devido à capacidade que qualquer disciplina tem em engendrar as suas próprias ilusões e de se esconder atrás de um nevoeiro que especialmente emite.» (DELEUZE & GUATTARI, 1992:12-13).