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Dormir fora de casa pode ter várias interpretações de acordo com a idade, com a situação familiar, com a necessidade profissional ou estudantil.
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Quando me refiro a esta ideia vem primeiramente a ideia à cabeça de quando era mais jovem. Provavelmente a primeira vez que dormi fora de casa terá sido na casa dos meus avós que moravam um pouco mais acima, na mesma rua.
A casa era antiga, os tectos altos e para chegar ao quarto que me estava destinado, tinha que percorrer um longo corredor em soalho de madeira que rangia à sua passagem, apesar de ser regularmente impregnado de cera. De noite não me atrevia a percorrer aquele corredor, que ganhava um ar pesado, tenebroso e silencioso, por vezes, entrecortado com o ranger da madeira e com o miado aflito de um gato no cio que percorria o telhado da casa. Preferia prender o xixi na bexiga ou levar um penico (https://www.luso.eu/colunistas/cronicas/crianca-presa-no-penico.html) para colocar debaixo da cama para ocaso de acontecer uma emergência. O colchão de palha forrado por um lençol velho concedia um conforto limitado pela palha velha e acamada, agravado pela alergia ao pó da casa e à palha. Assim, por vezes, as noites eram passadas em claro, à espera que a primeira luz do dia chegasse rapidamente para se poder levantar, para fugir ao cheiro da palha do colchão.
Acordava cansado depois de passar a noite a arfar aceleradamente fruto da falta de ar provocada pelo pó da palha.
Mas ainda assim, era uma aventura poder dormir fora de casa.
Mais tarde, pude dormir fora, passando alguns fins-de-semana em casa dos meus tios. Moravam numa rua calma, mesmo ao lado de um pinhal que proporcionava ar puro, mas mesmo assim, em alturas de primavera, sofria imensamente com o pó dos pinheiros. Felizmente que a praia ficava mesmo ali ao fundo daquela estrada imensa, sinalizada por um enorme silo branco de água com a inscrição da localidade sem seu redor. Eu sabia que quando quanto mais próximo estivesse do silo, mais depressa chegaria à praia onde não havia polén nem pós para interferir com a minha alergia.
Naquela casa dos meus tios, encontrava-me bastante mais longe da minha casa, mas sabia que voltaria. A ideia de voltar a casa sempre me agradou para reencontrar os meus pais e irmãos.
Mais tarde a ideia de dormir fora de casa passou por arranjar uma tenda e ficar longe de casa num parque de campismo. Eu, o meu irmão e um amigo levamos uma tenda de lona e ferro bastante pesada no comboio para ficar fora de casa e simplesmente testar a nossa autonomia. O chão era desconfortável, porque os colchões eram de espuma e os ossos tocavam no chão, causando uma sensação de dormência durante a noite e transformando num corpo dorido durante o dia. Mas a sensação de independência era superior a todos aqueles constrangimentos e por isso valia a pena.
Hoje os meus filhos dormem em casa dos amigos, quando calha e também já experimentaram a sensação de dormir na tenda montada no jardim, porque nunca tiveram oportunidade de acampar.
Dormir fora de casa também inclui a semana de férias, quando estamos longe, quando vamos trabalhar e não vamos dormir a casa ou quando a casa passa a ser a residência universitária.
Mas dormir fora de casa é poder adormecer tendo como tecto as estrelas e a lua. Esse é um dos espectáculos mais belos do universo para adormecer.