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1. Fomos a Cascalhos, na freguesia de Mouriscas, prestar reverência à Oliveira do Mouchão, que andará agora pelos 3357 anos e é a árvore mais antiga de Portugal. Em 2016, o perímetro médio da base correspondia a cerca de 11 metros, o perímetro médio ao nível do peito superava os 6 metros. Exibe tronco oco e rugoso, impressiona pela antiguidade e pelo porte, não existe ali planta ou edifício que lhe faça sombra. Entrou para o rol das árvores mais bem coladas à minha memória, a par do plátano do Rossio de Portalegre, sob cuja copa foi fundado o Estrela de Portalegre, e de um carvalho no meio de um campo de futebol, na Estónia (admitiram desenraizá‑lo, mas a tarefa era tão complicada que o deixaram ficar).
2. Em Tramagal, visitámos o Museu Metalúrgica Duarte Ferreira, aberto em 2017 e instalado nos escritórios daquela que foi a maior fundição do país. Criada por Eduardo Duarte Ferreira (1856‑1948), empreendedor dotado de invulgar capacidade para se adaptar à evolução das circunstâncias, por lá passaram milhares de operários.
Ao longo de parte do século xx, a Metalúrgica Duarte Ferreira (MDF) deu cartas na arte de fundir e trabalhar o metal. Produziu equipamento de usança em diversas áreas de atividade, mormente na agricultura (charruas, debulhadoras, descaroladores de milho…), na oleicultura, na vinhataria e na construção, naval e civil. A borboleta do seu logótipo sinalizava peça de excelência.
A MDF persolveu a sua dívida para com a comunidade, disponibilizou serviços de saúde, de previdência, de educação, desporto e cultura aos trabalhadores e à população local. Mesmo no tempo do Estado Novo, o Dia do Trabalhador era celebrado, havia o costume de enfeitar o recinto fabril com flores.
Entre as razões que contribuíram para o termo da sua história de sucesso, contaram‑se a concorrência e o fim da Guerra Colonial (a empresa fabricava o camião Berliet, utilizado no Ultramar).
Extinta na última década do século passado, a MDF deixou rasto. Em espaços que lhe pertenceram, são hoje montados camiões de marca Mitsubishi Fuso e operam companhias do Grupo Diorama, dirigido por Joaquim Dias Amaro, antigo trabalhador da MDF.
A visita ao museu foi interessante, instrutiva. E, embora eu nunca tenha lidado com bens de produção nem haja tido contactos ou afinidades com gente da MDF, senti nostalgia, emoção que me reportou à história industrial portuguesa, à firma em que o patrão conhecia o operário, à empresa que curava do homem‑assalariado. Nostalgia penetrada de revolta pela brutal exploração do trabalho a que hoje se assiste.