
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
A situação da nossa companhia de aviação de bandeira é preocupante, quer numa perspetiva de sustentabilidade financeira, quer quanto à perceção pública da qualidade dos seus serviços. Pela importância da sua boa operacionalização para o desenvolvimento da nossa Região, este é um assunto que deve e está a envolver e motivar os Açorianos, mas o debate público e até mesmo o político, ainda que necessários, não podem sobrepor-se ao tratamento especializado da questão, nem devemos incorrer no erro de assumir como norma episódios que não abonam para o bom nome da empresa.
Não vou, por isso, atrever-me a apresentar mais do que princípios orientadores para uma abordagem sistematizada do problema, que possa consolidar opções políticas sustentadas e credíveis. O primeiro passo que tem de ser dado é, precisamente, o de garantir a primazia da especialização, mas isso implica que se definam concretamente e com fundamento técnico quais os objetivos da empresa. A pergunta que deve anteceder qualquer decisão é: que SATA queremos e para quê? Esta é uma questão a que o debate político frequentemente se furta, dada a sua sensibilidade e o impacto eleitoral associado.
Queremos uma Companhia apenas orientada para a eficácia financeira ou que contribua para o desenvolvimento harmonioso dos Açores? A coexistirem, com que limites? A SATA deve apenas responder às nossas necessidades de mobilidade ou servir também de catapulta para o desenvolvimento do turismo? Em ambos os casos, em que medida e para que mercados? Quais os critérios de seleção desses mercados e onde se integram os da diáspora? Quantas portas de entrada direta na região queremos? Devem ser criadas apenas as que otimizam os custos operacionais ou faz sentido introduzir gateways não tão viáveis sob o ponto de vista financeiro, para que possam contribuir para uma diversificação das entradas na Região? Quais os critérios que devem presidir à sua localização? Em que medida é que a descentralização do turismo deve assentar, quer nas entradas diretas do exterior, quer nos reencaminhamentos?
A resposta a estas perguntas não pode, na minha opinião, deixar de estar fundamentada em estudos de impacto em cada uma destas situações. Só assim poderemos garantir que os apoios públicos à mobilidade e para o investimento nas diferentes ilhas coexistam de forma equilibrada com a necessidade de se garantir a sustentabilidade financeira da SATA. O cenário atual que persiste num inaceitável amadorismo técnico, apenas serve para alimentar bairrismos. E esse mesmo amadorismo potencia cenários de análise casuística relacionados com experiências individuais de viagens que vão minando a perceção generalizada relativa à SATA e, assim, condicionando demagogicamente o debate, entrando num círculo vicioso.
O mercado da aviação é um dos mais complexos e não se compadece com “deslizes” de ordem técnica e muito menos com opções políticas ruinosas. Quando os responsáveis se assumem como não especialistas, abrem terreno para o descalabro até mesmo na forma como se aborda pública e politicamente o problema, e esse é o princípio do fim.