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Quando nasci, vivia em Santo Amaro de Oeiras em frente ao local onde desagua o Rio Tejo. Um local maravilhoso e de incrível beleza. A praia era grandiosa e tal como o meu pai, por ali vivi toda a minha infância, mas à medida em que fui crescendo, percebi que o Rio não era assim tão bonito por estar sujo devido à poluição que trazia.
Anos mais tarde, muito trabalho se fez para a despoluição do Rio Tejo e hoje, em Oeiras, a praia tem uma água transparente e aparentemente limpa. Ainda bem que assim é.
No entanto, as aparências iludem. O Rio Tejo não é o que parece e pode ser um verdadeiro barril de pólvora. Detetei isso mesmo na sequência de uma das minhas viagens por causas humanitárias em 2016 quando decidi descer a totalidade do curso do Tejo, da nascente à Foz. Juntei os amigos Carlos Silva, Pedro Fiadeiro e Alexandra Bartolomeu e partimos para a Serra de Albarracín, zona florestal de uma beleza incrível onde vimos veados, javalis, águias e tantos outros animais e onde a meio desta paisagem nasce o maior rio da Península Ibérica.
No primeiro dia de viagem percorremos paisagens muito bonitas e o percurso prometia muito, mas, nem tudo eram rosas. No final da primeira etapa, o primeiro de muitos problemas. Encontramos a central nuclear de Trillo que ainda se encontra ativa e que utiliza as águas do Rio para arrefecimento do seu reator.
O segundo dia, trazia mais surpresas. No meio de uma paisagem magnifica, encontramos o local onde 75% da água do rio é desviada para ir irrigar a zona de Múrcia. E mais à frente, uma nova central nuclear, que apesar de já se encontrar parada há alguns anos, ainda está num período em que tem perigo de contaminação.
Mas nem tudo é mau e o Tejo atravessa locais que regalam os olhos, como Toledo, Oropesa ou Aranjuez. Curiosamente logo após esta última cidade, um Tejo muito pequeno, com apenas 25% da sua água, encontra-se com o Rio Jarama que traz os esgotos, apesar de tratados, de cerca de 6 milhões de madrilenos. E é por se terem detetado inúmeras doenças de pele, que desde 1970 está proibido tomar banho no Tejo na zona de Toledo. Uns km depois, encontramos a cidade de Talavera de la Reina onde uma ilha de detritos altamente poluída cresce de dia para dia no meio do rio.
Por esta altura já tínhamos passado o meio caminho e até à fronteira as barragens sucediam-se tendo mesmo numa delas, mais uma central nuclear com dois reatores, a apenas 100 km de Portugal e que, segundo vários pareceres, já deveria estar desativada, mas continua a trabalhar e a arrefecer graças à água do nosso rio.
O contraste entre as paisagens e os maus tratos ao rio acentuou-se com a travessia do Parque Nacional de Monfrague onde a paisagem é deslumbrante, mas ao descermos para uma barragem, deparamo-nos com o cheiro horrível a água estagnada por não abrirem as comportas ao bloqueio das águas que deveriam ser internacionais.
Com isto, passamos a fronteira e entramos em Portugal onde constatamos que devido à retenção de águas pelos espanhóis, a Lisboa apenas chegam águas nacionais dos rios Ponsul e Zêzere e é por isso que encontramos areais enormes na zona de Santarém ou marés a subir até à Valada, mas com o que vimos em Espanha, será que queremos águas tão poluídas a chegar cá?
Mesmo sabendo disso apenas pergunto porque é que o nosso governo não defende os nossos direitos em tantas cimeiras ibéricas?
E assim vai o nosso Tejo.