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Nos últimos dias temos assistido a um ambiente de profunda revolta popular alicerçado em alguns dos setores mais importantes do país: Agricultores que produzem o que todos comem e policias que nos protegem.
Considero que o primeiro problema inerente a esta insatisfação é o sentimento de desrespeito que estes profissionais sentem por parte do Estado da República Portuguesa. O segundo problema é a forma como os decisores políticos têm nos últimos anos sido autistas para compreender os problemas destas pessoas que trabalham em prole de todos. O resultado óbvio é a sensação de abandono e isso traz descontentamento.
Infelizmente vivemos num mundo onde alguns tentam usar as frustrações das forças vivas da sociedade para polarizar os extremos, usam de forma desapoderada e desenfreada todas as ferramentas que têm à mão para se conotar com estas desilusões e muitas vezes acicatando estes problemas sem nunca propor soluções.
Pessoalmente não entendendo o porquê de se tentear sempre misturar tudo ao ponto de se aproveitarem das situações dos outros para benefício próprio. Sou dos que acha que é essencial saber ouvir, que importa reunir com as pessoas da sociedade civil para no fim usar a política como instrumento de resolução de problemas e mitigar injustiças.
É por isso que enjeito totalmente a ideia de que quem se manifestou nestas últimas manifestações foi a extrema-direita. Porque isso é dizer que os radicais paladinos do racismo, xenofobia e das teorias da conspiração, têm razão. Tal como o 25 de abril não foi feito pelo PCP, as manifestações dos agricultores e dos policias não foram feitas pelas extrema-direita.
Os cortes de estradas assim como a marcha junto à Assembleia da República foram feitas por pessoas que têm reivindicações legitimas e que se veem menorizadas nos seus locais de trabalho. Não são radicais nem extremistas, são iguais nas circunstâncias complicadas do seu dia a dia e compreensivelmente esgotaram a sua capacidade para as digerir.
É de lembrar as más condições que têm no seu trabalho. Os salários miseráveis que auferem tendo em conta as suas funções, num ato que considero que é a proletarização do trabalho numa dimensão nunca vista. Os serviços públicos que os seus impostos pagam são terríveis, a poupança é inexistente e a pobreza geral das várias dimensões humanas lugar-comum no seio de policias e agricultores.
Já se perguntaram sobre as condições das esquadras de Polícia e quarteis da GNR pelo país fora? Tiveram em atenção que muitas vezes estes agentes da autoridade do Estado se veem sozinhos ou com falta de efetivos para nos mantarem em segurança?
Ninguém se pergunta se os próprios policias quando saem das esquadras podem garantir a sua própria segurança com os materiais que têm à sua disposição e muitas vezes pagos pelos próprios? Já se questionaram se aquele agente para trabalhar tem de viver longe do seu local de trabalho parar dar condições de proteção à sua família? E agora será justo que que mereçam receber como ordenado base somente 1122 euros para os PSP e 1257 euros para a GNR, segundo os dados apresentados? Os agentes que se manifestaram têm toda a razão.
No caso dos agricultores os contornos são idênticos. Será que existe consciência das dificuldades que estes empresários têm? Do impacto que a incompetência do Estado tem no seu negócio? É assustador verificar que os cortes nos pagamentos aos agricultores no âmbito PEPAC foram devido a erros de programação do Ministério da Agricultura o que levou a uma redução direta de 35% e 25% nos pagamentos. Recuso a ideia de que a agricultura e o mundo rural são o parente pobre das atividades do nosso país.
A ruralidade e o seu modo de vida merecem respeito enorme e uma das reivindicações simples dos agricultores é a integração da agricultura como disciplina de Cidadania nas escolas, para a promoção da vida rural.
Os profissionais da segurança pública assim como os agricultores merecem o nosso respeito e compreensão, as suas manifestações foram pacificas e dignificaram as suas profissões. Naturalmente que há de tudo um pouco no meio de milhares de pessoas, mas estou em crer que um grito de revolta não tem de ser radical ou extremo. Pode ser só a única forma de dar a conhecer o descontentamento e os seus motivos.
Luis Nunes dos Santos