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Um apelo de uma comunidade que integra cidadãos russos e ucranianos espoletou a criação em Portugal de uma plataforma imobiliária digital que já alojou mais de mil pessoas, revelou hoje à Lusa a administradora Ana Santos Pereira.
A invasão da Rússia à Ucrânia, a 24 de fevereiro, revelou-se, também, uma “carga de trabalhos” para duas consultoras de imobiliárias, Ana Santos Pereira, em Lisboa, e Joana Kołtan, no Porto, que, correspondendo ao apelo da “comunidade de desenvolvimento humano e de consciência 'Working with Satyia', que integra gente da Ucrânia e da Rússia, alteraram as suas vidas para “ajudar a retirar as pessoas dessa comunidade” do cenário da guerra para “as alojar em Portugal”, contou.
O recurso inicial, uma folha de Excel, quatro dias depois revelou-se “ultrapassado”, seguindo-se novo apelo, desta feita de ambas, “à empresa parceira Casafari para que criasse uma plataforma digital que permitisse tornar o processo automático”, referiu a administradora da então criada CIPU – Consultores Imobiliários pela Ucrânia.
“E assim surgiram os formulários direcionados para os refugiados, onde estes preenchem os seus dados pessoais e o que procuram em termos de alojamento, e para os proprietários, que indicam as suas disponibilidades. Atualmente, o sistema está perto de dar uma resposta automática com as sugestões”, explicou.
Numa luta contra o tempo, o objetivo passa por “acelerar o processo”, disse Ana Santos Pereira, desvendando terem “técnicos de IT (informática) a trabalhar dia e noite para aprimorar o sistema”.
Com “mais de 3.500 camas registadas na plataforma e mais de mil pedidos de ajuda”, têm, atualmente, “mais de 200 voluntários a trabalhar”.
Da comunidade, contou, conseguiram “trazer e alojar todos em Portugal”.
“Já trouxemos para Portugal mais de 250 famílias, ou seja, perto de mil pessoas”, precisou, explicando que “90% dessas pessoas estão em alojamento gratuito e uma minoria em alojamento pago”.
A consultora lamentou, contudo, uma realidade paralela, a de haver “pessoas [deslocadas da Ucrânia] que chegam a Portugal com capacidade para pagar dois ou três mil euros por mês pela habitação, mas que não estão a conseguir alojamento porque os proprietários exigem um ano de contrato e não os três ou quatro meses que os refugiados acham que precisam”.
Segundo Ana Santos Pereira, a solução passa pela recomendação de recurso ao Airbnb e ao Booking (serviços ‘online’ de pesquisa e reserva de alojamento) para fazer uma reserva pelo máximo de tempo possível.
“A nossa dificuldade é ter voluntários para dar resposta. Até terça-feira vamos ter de alojar 400 pessoas que estão previstas chegar. Até nas ilhas temos oferta e já há lá pessoas alojadas, sendo que aqui há também a oferta de trabalho e de salário”, acrescentou.
Admitindo haver “problemas de alojamento de pessoas que trazem animais de raças perigosas”, a responsável enfatizou continuar numa “luta contra o tempo” e contra a “falta de recursos humanos”.
“Temos mais de 200 voluntários e precisávamos de 400 para conseguir garantir uma resposta em 48 horas”, concluiu.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 780 mortos e 1.252 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 5,2 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,1 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.