Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
Um empresário lusodescendente está a conquistar o paladar dos sul-africanos com uma receita familiar portuguesa de pastel de nata, de cinco gerações, importada da vila da Malveira, na área metropolitana de Lisboa.
Raul de Lima, de 58 anos, filho de imigrantes de Viana do Castelo e do Funchal, região autónoma da Madeira, contou à Lusa que a ideia do projeto surgiu em 2020 para trazer ao “coração” da capital económica sul-africana “a paixão e o amor” que se vive nas ruas de Lisboa.
“Queríamos importar um pedaço de Portugal para Joanesburgo na forma de algo que tivesse cultura e história e, por isso, decidimos arriscar investir em algo novo e diferente”, explicou o empresário português.
Nesse sentido, sublinhou, conhecendo “a mente e o sentimento português”, constata-se que os portugueses sempre foram “exploradores e um povo de coragem”.
“Existe uma qualidade única em torno do facto de sermos educados pelos nossos pais, que herdaram crenças e peculiaridades dos seus antepassados, que julgo serem a essência de quem somos”, salientou.
Na Casa das Natas, no subúrbio exclusivo de Sandton, norte de Joanesburgo, a “essência” de Portugal continental é servida num pastel de nata acompanhado por uma ‘bica’ ao balcão, onde Raul de Lima juntou a tradição lisboeta num espaço moderno, contemporâneo, cruzando influências locais com música lusófona e os sabores do café da Gorongosa, o parque nacional de Moçambique, país vizinho.
“Os portugueses não se limitaram apenas a Portugal ou à África do Sul, exploraram quase todo o mundo, mas a mesma essência permanece viva em cada um de nós e julgo que é essa beleza e riqueza que sentimos”, apontou.
Parte da preparação do projeto, que integra na sua maioria jovens, envolveu uma visita de cerca de duas semanas a Portugal, nomeadamente a Lisboa, a “capital da nata”, como referiu Raul de Lima.
“Estive cerca de 10 dias em Lisboa e visitei o maior número de casas de pastéis de nata que consegui, e provei imensas natas, às 15 e 20 por dia, na tentativa de encontrar a nata perfeita”, contou o empresário à Lusa.
O lusodescendente acrescentou que a "aventura" o levou a conhecer uma pequena pastelaria na vila da Malveira, no concelho de Mafra, onde uma família de cinco gerações de chefes pasteleiros tem vindo a dedicar-se à arte.
“Encontrei um jovem de 29 anos, na altura, de nome João Batalha, muito humilde, educado na Suíça, em Inglaterra, Espanha e em França, e descobri um profissional com uma enorme paixão pela arte da pastelaria, mas também já muito premiado na arte de confecionar a nata perfeita”, salientou.
No processo de montagem do negócio em Joanesburgo, que durou cerca de 12 meses, o pasteleiro português visitou pela primeira vez a África do Sul para formar um pequeno grupo de jovens pasteleiros na arte de confecionar o pastel de nata à moda da Malveira.
“Ele tem sido parte instrumental em ensinar como fazer uma grande ‘nata’, com muita paciência, e formar pessoas que nunca tinham feito natas”, frisou.
“Tudo começa com a massa, e obviamente os ingredientes, frescos, alguns são importados da Europa, é muito importante porque é preciso trabalhar com qualidade”, vincou Raul de Lima.
Mas sem esquecer também a importância de se trabalhar com “mestria” a “elasticidade” e “crocância” da massa folhada, o “recheio” e o “tempo de confeção”.
“Foi assim que chegámos onde estamos hoje, mas, como digo, através de um enorme esforço e ajuda de um jovem senhor chamado João Batalha que hoje consideramos da nossa família”, sublinhou o empresário lusodescendente, natural de Joanesburgo.
O investimento, de mais de 2,5 milhões de rands (144,5 mil euros), no Centro Comercial de Sandton City, resultou de uma sociedade com os fundadores da cadeia multinacional Nando’s, uma das primeiras histórias de sucesso mundial de uma marca sul-africana de origem portuguesa em Joanesburgo.
“Na verdade, hoje há mais marcas de natas em todo o mundo, seja em Sidney, Nova Iorque ou Abu Dhabi, e é muito encorajador que possamos transportar o nosso conceito para vários locais, incluindo a Cidade do Cabo, Durban e talvez até mais longe”, avançou Raul de Lima.
“Acho que a nossa herança cultural atesta o facto de sermos bastante corajosos e, se acharmos que algo funciona bem, adoraríamos exportar o conceito”, concluiu o empresário português.