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Desde já coloco a questão ao leitor: deveria ter alterado o título para uma interrogação? Mesmo que o fizesse, qual seria a sua resposta? Se seria afirmativa, não se canse e pode passar ao texto seguinte. Estou prestes a incomodá-lo (ou não) com algumas questões que o podem confrontar com a ilusão do conhecimento. Como referido por vários pensadores ao longo dos tempos “o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas sim a ilusão de conhecimento”.
Temos tendência a pensar que somos especiais, que conhecemos a verdade e que os demais estão longe disso. Quem pensa como nós é um génio – até o título deste texto foi escolhido tendo isso em conta –, e que quem não pensa da mesma forma é um burro. Passo a citar um dos meus filósofos contemporâneos favoritos, Mario Sergio Cortella: “Você é um entre 6,4 mil milhões de indivíduos pertencentes a uma única espécie, entre outros 3 mil milhões de espécies classificadas, que vive num planetazito que gira em torno de uma estrelinha que é uma entre 100 mil milhões de estrelas que compõem uma galáxia que é uma entre outras 200 mil milhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer”1. Ou seja, além de insignificantes no cosmos, é muito provável que haja um número infinito de coisas por saber, e mesmo aquilo que julgamos ser verdade, ser suscetível de estarmos enganados. Calma, isto ainda vai ficar pior!
Não obstante, dado o advento da facilidade com que a (des)informação viaja, é muito difícil encontrar informação fidedigna. Nos meios de comunicação social e redes sociais, geralmente, o parecer conta mais do que o ser. Cada vez menos encontro algum compromisso com a verdade. Isto é perigoso na medida em que muitas vezes caímos na conversa da treta como tão bem explica Harry Frankfurt2. Pior do que nos mentirem, é nem sequer se preocupar com a veracidade do que se diz. Se aliarmos isso uma postura de “comer e calar” sem espírito crítico algum, e por isso também nós despreocupados com a verdade, estaremos a perpetuar uma ignorância consentida que se torna inevitavelmente em ilusão de conhecimentos anteriores. Para evoluir é necessário reconstruir, o que envolve melhorar o que “tínhamos” anteriormente.
É normal que o nosso ego não nos ajude neste processo de desenvolvimento. Afinal, é a proteção da nossa integridade que está em jogo. O cérebro procura garantir a sobrevivência do organismo aproximando-nos de estímulos positivos que dão feedback positivo às nossas decisões. Por outro lado, afasta-nos daquilo que ele – o cérebro – considera num determinado momento como estímulo negativo3, e que em última análise põe em causa as nossas crenças e decisões anteriores. Mas como já referia Espinosa, devemos rejeitar esse ato protetivo para podermos melhorar as nossas práticas, repensar nas nossas decisões e então evoluir para novas verdades. Um caminho sem fim e, provavelmente, ineficaz. Ainda assim, cada vez mais perto de uma verdade inalcançável. E mesmo assim, ser feliz com essa falta de certezas absolutas que promovem o autoaperfeiçoamento, ou seja, a excelência.
Desculpe se incomodei o seu ego. Prefiro viver uma verdade teoricamente infeliz, do que uma fantasia momentaneamente satisfatória.
- “Qual é a tua obra?” – Mario Sergio Cortella
- “Bullshit! – Sobre a conversa fiada, o embuste e a mentira” – Harry G. Frankfurt
- “Ao encontro de Espinosa” – António Damásio