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Terminado o mundial de futebol do Catar 2022, que ditou a vitória da Argentina e, já com a devida distância de adepto, aproveito para escrever umas linhas sobre uma das figuras centrais, Cristiano Ronaldo. O futebol, tal como a política e a religião, pela paixão que geram, tem a capacidade de nos afastar da racionalidade devida.
Acredito que ninguém tem dúvidas que CR7 é um dos melhores jogadores de sempre, que fez feitos notáveis, que colocou o nome de Portugal em todos os cantos do mundo, um verdadeiro embaixador de Portugal. Contudo, a minha racionalidade leva-me a olhar para um clube, uma seleção, como uma empresa, uma organização, que possui departamentos, hierarquias, funcionários, como as demais empresas e organizações. Neste sentido, Cristiano Ronaldo é um trabalhador, como qualquer outro, que tem um chefe, neste caso, treinador, ao qual deve obediência e respeito.
Não é por ser um dos melhores do mundo que não deve respeitar as decisões dos superiores. Cabe ao treinador decidir, em que posição colocar cada um dos seus jogadores, se os coloca a jogar, se os convoca, se os deixa no banco, se entende que o melhor contributo que determinado jogador possa dar à equipa é jogar apenas três minutos. E ele, como qualquer outro trabalhador, tem de cumprir as ordens de quem decide, sendo este responsável pelas suas decisões.
Mas, como dizia anteriormente, o futebol, pelas paixões que desperta, tem o poder de afastar da racionalidade, o comum dos cidadãos e a própria Comunicação Social. Foi o que aconteceu, com a entrevista de Cristiano Ronaldo ao jornalista Piers Morgan, no canal Talk TV, e com a decisão de Fernando Santos de o colocar no Banco. Foi um sem número de artigos em Jornais, a defender CR7, que tinha toda a razão em dizer o que disse na entrevista, e outros tantos a criticar a opção de Fernando Santos.
É claro que CR7 não tem razão alguma para dizer o que disse, para desrespeitar o Manchester United e o seu treinador. Tal como não há razão alguma para se crucificar Fernando Santos, que em minha opinião, até foi simpático com ele. Se calhar, com outro treinador na posição de Fernando Santos, perante a atitude que CR7 teve aquando da sua substituição no jogo frente à Coreia do Sul, não jogaria mais no mundial. Mas, logo apareceram as notícias de que Ronaldo era o melhor de todos os tempos, que tantas alegrias nos tinha dado, que tinha financiado a construção da Unidade de Cuidados Intensivos no Hospital de Santa Maria, a par de outros argumentos.
Todos nós somos gratos a Ronaldo, pelos seus feitos, bem como a todos os demais portugueses que ajudam os que mais precisam, mas isso não lhe dá o direito de achar que deve ser titular indiscutível, que tem de ter tratamento de excepção. Para mim, a Ronaldo, desde que se tornou rico e famoso, sempre lhe faltou alguma humildade. Nunca percebeu que um dia, fruto da evolução normal da vida, deixaria de ser o melhor e passaria a ser mais um, igual aos demais. Nunca se preparou para esse momento.
Falta-lhe a dimensão humana dos GRANDES homens, como Valéry Giscard d`Estaing, que após ter estado no topo da política francesa, ser o mais jovem Presidente da V República de França, conhecido como o primeiro “Presidente Moderno”, aceitou, com humildade, descer ao Povo e ser candidato e Presidente do Conselho regional de L`Auvergne.
Aproveito para desejar, a todos os leitores, um próspero Ano de 2023.
Fernando Vaz das Neves