
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
Cá estou, uma vez mais, para partilhar um dos meus devaneios. Não que isso constitua qualquer verdade absoluta, antes pelo contrário, por ser apenas a minha perceção da realidade tal como o próprio nome indica. No DLP1 podemos facilmente compreender que esta distorção da realidade pode ser errónea. Na verdade, é precisamente sobre este erro que quero hoje falar.
Em primeiro lugar, escolhi este título na esperança de cativar o leitor com uma expressão que geralmente utilizamos para terceiros, e que achamos que a nós não é aplicada. Logo, pretendo resgatar a humildade perante o conhecimento e um momento de reflexão que nos poderá tornar melhores seres humanos ou algo mais próximo disso. Além disso, temos a tendência a achar que somos especiais. Que quando agimos bem foi mérito do nosso próprio trabalho, e que quando admitimos que errámos isso foi fruto das circunstâncias que nos forçaram a tal erro. Porém, a ciência hoje demonstra que as coisas não são bem assim. Num livro muito interessante2 , sobre as artimanhas do nosso cérebro e de como as podemos corrigir, podemos compreender melhor este fenómeno.
Basicamente, a seleção natural com todo o seu esplendor evolutivo foi moldando os nossos circuitos cerebrais de forma a nos aproximar daqueles que partilham as mesmas ideias que nós e a nos afastarmos de quem é diferente de nós nos mais variáveis aspetos. Se há dois mil anos isso era benéfico para evitar ser morto por alguém de outra tribo, hoje podemos considerar este sistema como algo obsoleto. Já não faz sentido pensarmos assim, pois ninguém me deve nem pode – perante a lei – matar por estar hoje aqui a dizer ao leitor que deve renunciar ao seu ego no que à partilha de ideias diz respeito.
Ora, se o meu colega de trabalho justifica a sua incompetência com um hipotético erro meu, não há por que me ofender com isso, mas sim demonstrar de forma racional e clara que o que eu fiz estava correto – se esse for o caso obviamente. No budismo pratica-se o conceito do não-eu e na minha interpretação, uma crítica ao meu trabalho (verdadeira ou não) não é uma crítica a mim, mas sim uma oportunidade de me fazer refletir sobre a minha prática para então decidir se a devo alterar ou não.
Sou livre de escolher – mediante as condições que tenho, naturalmente – de me deixar influenciar negativamente ou não pelos eventos que me rodeiam. Não posso controlar um milhão de coisas que me condicionarão a vida, mas posso melhorar a forma como as interpreto e o que aprendo com cada uma delas: morte, crítica, doença, desemprego ou medo da covid, por exemplo.
Assim, acho que todos nós, virgens ofendidas que somos por vezes, devemos criar um distanciamento entre as ameaças e o nosso ser. Aprender a ver as coisas com mais clareza, ter força para enfrentar os nossos próprios pontos fracos e aproveitar a beleza da vida sem sofrimento (ou com o menos possível). Já agora, se quiser, experimente a meditação de atenção plena.
1- Dicionário da Língua Portuguesa: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/devaneio
2- “O Budismo tem Razão – A ciência e a Filosofia da Meditação e da Iluminação” – Rober Wright, 2017