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Hoje temos como convidada a escritora Ana Mendes, Luso-Angolana, responsável do departamento de esterilisação numa clínica da riviera, no cantão de Vaud, na Suiça, e que nos vai falar um pouco dela, suas origens e da sua paixão pela literatura. Augusto Lopes, correspondente de nosso jornal guiou a entrevista.
Augusto Lopes (AL) _ Ana como cidadã Luso-Angolana e Suiça, consegui captivar um publico suiço através da tua experiência como enfermeira e com os seus livros. Estando nós a atravessar um periodo critico sanitário com o COVID19 e tendo em mente a obrigação de permanecermos em casa, segundo as recomendações da OMS, tenho a dizer que é a ocasião ideal para recomendar ler o teu romance, LES SECRETS DE SANSENSE.
Ana Mendes (AM) _ Efectivamente este é o periodo muito delicado para todos os países e nada melhor do que ler um bom livro, como uma janela para o mundo, já que estamos forçados a protejermo-nos.
(AL) _ Luso-Angolana, que se inspira de casos na Suiça, explica-nos um pouco essas misturas, influências que te guiam e inspiram, aos nossos leitores.
(AM) _ De avôs transmontano e Alentejano de uma parte e de Kuanhama e Huambo da outra, fez-me evoluir com uma bagagem internacional e muito rica. Fez-me viajar por países e no meu íntimo também . Fui colecionando pérolas do meu colar, que guardo com carinho.
(AL) _ A Europa e a África em união, que te ficou de Angola, mesmo vivendo no centro da Europa?
(AM) _ Tudo, as ruas, os piqueniques à beira do rio kuansa, os cheiros da terra ao ser levantada pelas primeiras gotas da chuva, a escola ou a igreja do meu baptismo em Nova Lisboa/Huambo. As águas quentes do alto Ama. As saídas de jipe pelas matas fora, as praias de Luanda e Benguela.
Aquele arco-íris que nos deixou lindas cores no coração como herança, a mim e tantos outros filhos dessas nações entrelaçadas .
(AL) _ E porquê a Suiça?
(AM) _ Depois de nos termos refugiado em Lisboa, em 1975, as dificuldades eram reais e instalei-me na Suiça muito jovem onde terminei os estudos e me formei no medical.
(AL) _ Como te surgiu essa vontade de escrever?
(AM) _ Foi com a maternidade, comecei a inventar contos e eles desenhavam-nos com o olhar inocente de criança. Imprimia um exemplar unicamente, mas o prazer que é sentir algo e transcrevê-lo, dar-lhe forma através de palavras soltas, fez-me ir mais longe e surgiram estes dois livros para um público mais largo.
(AL) _ E quanto aos teus livros, como os definirias, como te apropriaste deles, das ideias? Escreves em português e em françês também.
(AM) __ O primeiro relata a história dos meus avós maternos, a origem destas misturas que me habitam. De avô transmontano missionário e avó princesa do kuanhama. Faz-me perpetuar as minhas raízes angolanas, que retrata as diferenças, a aceitação dos outros. Um livro infanto-juvenil, muito bem ilustrado, lindo. A rosinha e o cardo selvagem (La petite rose et le chardon sauvage).
O segundo "Les secrets de Sansense", é um romance policial, baseado em factos reais, que afectam vários países, em especial a Suiça. Trata de adopções ilegalmente assumidas por instituições legais.
Em primeiro lugar tal deve-se porque há cada vez mais casos de infertilidade e esterilidade, o que originou centros especializados na procriação assistida e em segundo lugar, os casos infrutuosos levam à busca de alternativas, como barrigas de aluguer e ao recurso a redes de adopções clandestinas.
(AL) _ É um assunto delicado, e como percebi levou-te a viajar durante 2 anos, com as pesquisas. Também falas de vários imigrantes oriundos de diferentes países e que vivem por cá .
(AM) _ Sim, falo deles porque o enorme capital cultural das suas origens, enriquecem o meio onde vivem. Eles constroem pontes entre os países. Ao falar de pizzas ou kebabs, hot-dogs, paelas, pastéis de nata ou moamba, mandioca, de samba, jazz ou merengue, penso neles todos. Em nós todos.
(AL) _ Para terminar, o que é que gostarias de deixar como mensagem aos nossos leitores ou futuros escritores?
(AM) _ Coloquem todas as ideias em folhas soltas e depois tentem ressentir as emoções que essas frases vos transmitem. Não há más ideias, só ideias, tudo é história, poesia, sentimento.
Então deixo aqui o convite da Ana Mendes, para voçês todos e até breve, para mais um encontro literário.
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