Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
Nem sei muito bem por onde começar este texto a não ser que tenho de começar por algum lado, pois vou atrever-me em caminhos que nunca trilhei, em áreas que não estudei, sendo escasso o meu conhecimento na matéria, mas é mister que me debruce sobre um tema em que ando a cismar faz algum tempo e que ganhou força depois de uma recente conversa com mais um sobrevivente.
Nas minhas relações de amizade duas pessoas que me são próximas passaram recentemente por processos cancerosos, e uma outra que apenas conheci há poucos dias também percorreu o calvário da químio e das radioterapias.
A dor física por que passaram nos tratamentos deve ter sido atroz e a descrição mais expressiva de cada um dos três resume-se à ideia de “quando é que isto acaba”.
O ponto que quero abordar é outro e trata-se da dor da psicológica que experimentaram, a ansiedade que sofreram, o medo, por vezes o pânico até por que passaram, e a tormenta da incerteza de estarem num limbo com o espectro da morte ali tão próximo.
É sabido que todos temos marcada a hora da partida algures num dia insuspeito que vemos sempre longe e distante de acontecer lá num futuro adiado para um tempo que será o da velhice que se quer cheia de saúde.
Mas ter na flor da idade a espada de Dâmocles sobre a cabeça pronta para cumprir a sua finalidade de decepar a qualquer instante de um processo curativo em curso todas as aspirações, ambições, veleidades, excentricidades, fantasias, sonhos, projetos, não será nada fácil de enfrentar e decerto serão momentos de grande angústia, enorme incerteza, muito duros de serem vividos.
Quem passa por esses corredores conhece em paralelo pelo menos três tipos de sofrimento. O primeiro é desde logo o da dor de ser portador de doença cancerosa, que só por si atrofia desde logo o mental de qualquer um; depois é o processo a que se é submetido na tentativa de cura, o qual é consabidamente doloroso, cheio de mal-estar, de vómitos e náuseas; finalmente a complexa questão da dor do foro psicológico, que ao que sei não tem nenhum tipo de acompanhamento clinico, mas deveria ter. A saúde mental deste tipo de doentes terá também de ser necessariamente afetada de alguma maneira, e alguns haverão de cogitar se valerá a pena o tratamento pois o óbito é um resultado quase certo e mais expectável, mas de todo indesejável.
As três pessoas que motivaram estas linhas estão em situações bem distintas umas das outras. Uma delas depois de um cancro na mama tratado com sucesso sucedeu-lhe um cancro na cabeça que a tem vindo diminuir bastante em vários domínios e é hoje uma pessoa com dificuldades de variada de ordem. Um outro, está daqui para as curvas, como e bebe alegremente, trabalha com todo o ânimo, e é um dos raros sobreviventes a um cancro no pâncreas, faz parte dos dois por cento que conseguem superar esta doença. Sempre vigiado, regista valores tumorais como qualquer pessoa saudável. O terceiro, sobreviveu a uma leucemia das malinas, andou anos e anos nos hospitais, mas hoje em dia é um regalo vê-lo e perceber da sua alegria, do gosto que tem em viver e a gratidão por estar vivo.