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A minha vida mudou radicalmente neste último mês. De repente vi-me sem trabalho e comecei a atravessar um caminho pelo meu deserto interior. Tem sido, ainda assim, uma caminhada pacífica, dentro do possível.
Contudo, por vezes, tenho de parar de caminhar, ou pelo menos abrandar o passo, quando já é demais para o corpo e a mente teima em desistir.
Depois de uma pausa, volto a reerguer-me, a calçar-me e com esperança ponho um pé à frente do outro e tento, tal como uma tartaruga, caminhar ‘devagarinho e certo’, sabendo que a meta é viver em harmonia com o meu ‘dharma’.
Senti que faria todo o sentido durante este período viajar até Lisboa, uma cidade-casa onde vivi quatro anos da minha vida. Tentei escapar, no fundo, da minha insularidade e voltar a quem era no início de 2020 a viver na capital. Encontrei poucas reminiscência de mim.
Dizem que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes. Consigo perceber o porquê. Às vezes voltamos e já não somos os mesmos e há sempre ali uma dorzinha, talvez pelo sítio não ter aquela magia de outrora. Mesmo assim, acredito que não é sobre os lugares, mas sempre sobre nós.
Lisboa é casa. Habitei-a em diferentes fases da minha vida e como tal conheço bem os seus cantinhos. Um dos dias em que estive deambular sozinha pela cidade, refleti sobre aquilo que alguém me tinha dito recentemente, de que eu era portadora de uma vitalidade tropical. Nunca me tinham dito semelhante coisa e tive que pensar no que isso poderia significar.
Na altura não liguei muito ao assunto. Mas enquanto vagueava, acompanhada pela minha solitude, pela capital, várias vezes vinha-me à cabeça o termo “vitalidade tropical”.
Andei a escavar sobre o que poderia significar essa expressão, e depois de pensar muito no tema, senti-me em paz. Seja o que for, soa-me a abundância interior. Parei no Adamastor e fiz uma pequena análise sobre o meu percurso até agora e a verdade é que nunca desisti da caminhada. Posso fazer pequenos intervalos para descansar, posso mudar de rota, posso questionar se faz sentido o caminho, mas ainda assim, a verdade é que continuo a caminhar. Faça sol ou faça chuva, lá vou eu mais depressa ou mais devagar a explorar os trilhos da vida.
Neste momento, posso apenas ter orgulho de dizer que tenho a mochila às costas, o vestuário adequado e uma enorme vontade de descobrir novos caminhos. E como dizia António Abujamra no início do seu programa brasileiro “Provocações”, é “preciso caminhar no incerto, idolatrando a dúvida”.