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Enquanto lidava com a página em branco tropecei numa fotografia antiga em que estou com as primeiras irmãs que o universo me deu. Este fim-de-semana é o aniversário de ambas e até isso é mágico.
A primeira aniversariante, a Beatriz, é uma alma de paz, tão bonita, e com um coração capaz de albergar o mundo. Tornamo-nos amigas no 7.º ano e desde então que caminhamos juntas pela vida. E, apesar da nossa distância, nunca me esqueço da sua alegria contagiante, daqueles cabelos longos, os mais bonitos que já vi, tão delicados como ela. A Bia tem sempre um sorriso para emprestar! Não me recordo em tantos anos de amizade de a ver chateada. Ela sabe levar a vida com alegria e com leveza. Ensinou-me isso. Ela sabe muita coisa e no meio do seu silêncio transporta a sabedoria da vida.
Recordo com carinho, nostalgia e até alguma emoção aquelas noites em que ficávamos a falar ao telemóvel até altas horas, às escondidas dos nossos pais. Por baixo dos lençóis erguia-se um mundo secreto de confissões só nosso. Adolescentes com uma necessidade incessante de conversar, de questionar o mundo, de sentirmo-nos acompanhadas. Chamo-a, carinhosamente, de companheira de todas as horas, pois atendia sempre o telemóvel e às minhas inquietações.
A Bárbara, a segunda aniversariante, é a minha amizade mais antiga. Lembro-me de ter sido a primeira pessoa com quem falei no primeiro dia de aulas no pré-escolar. Costumamos dizer que a nossa amizade é cósmica. Na verdade, não me lembro de existir sem ela. A minha mãe conta que se recorda de ver a mãe dela grávida e curiosamente fomos bater à mesma escola e calhámos na mesma turma. Foi um acaso planeado pelos deuses.
A Bárbara tem a cor de olhos mais exótica que alguma vez vi. Toda ela é de uma qualidade muito rara. Seguiu medicina e é apaixonada pelo que faz. Vive de forma feroz. E isso é das coisas que mais gosto nela e que mais me inspiram. Vai atrás dos seus sonhos. E está neste momento sozinha na Costa Rica. Destemida como só ela sabe o ser. A Bárbara é uma força da natureza. Ensinou-me a importância da disciplina. E é com ela com quem faço o maior intercâmbio de livros e de desabafos do dia a dia. A Bárbara é uma alma curiosa e com uma sede incessante de conhecimentos. Somos amigas há 24 anos e continua a ser uma experiência poética acompanhá-la de perto.
Na verdade, a Bárbara e a Bia são mulheres-poema. Com estas duas irmãs vivi tudo. As primeiras saídas à noite. As idas ao Porto Santo. E mais tarde a errância Lisboeta. Há tempos a Bia dizia-me: “Aqueles tempos da faculdade em que estávamos todos os dias juntas, na altura não me apercebi, mas foi a fase mais feliz da minha vida”. Este comentário regado de amor foi como um abraço no meu coração. Por vezes, enquanto sigo pela minha vidinha, lembro-me com tanto carinho desses anos pela capital. Lembro as nossas odisseias e sou, como elas dizem, o arquivo de memórias do grupo.
Foi com elas que me tornei mulher. São sem dúvida grandes alicerces da minha casa interior. Ajudaram-me a ser quem sou! E que privilégio tenho eu de poder continuar a caminhar ao lado delas. É tão fácil perdermo-nos uns dos outros. Nós continuamos por aqui, guiadas pelo GPS dos afetos. Com menos tempo para gastar, é certo, mas com o mesmo amor. Continuamos a ser aquelas adolescentes em que numa noite, no Porto Santo, a olhar o céu, vimos a constelação das Três Marias.
Oscar Wilde tem um poema sobre a amizade em que diz que escolhe os seus “amigos pela pupila, pelo brilho questionador e pela tonalidade inquietante'', pela “alma lavada e pela cara exposta”. Obrigada, irmãs, pois eu tenho-vos como amigas para eu me lembrar de quem eu sou e nunca me fazem esquecer que a “normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."