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Vejo no parapeito da montra do supermercado, do lado de fora, uma fila de comida embalada. Sandes, saladas, fruta ou pão estão lá para os mais tímidos levarem.
Fico com uma sensação agridoce. Por um lado, o contentamento de que ainda existem criaturas benévolas e a humanidade pode ser salva. Gentes que dão pelo prazer de dar, apenas pela satisfação anónima que alguém irá ficar melhor hoje. A sua pedra no charco. Mas a tristeza de isso ainda ser preciso apoquenta-me. O dar pão não o devia ser. Mas é-o cada vez mais.
Na estação de Les Halles, a maior estação subterrânea do mundo, deixa-se comida no início das escadas rolantes, em direção a uma das 19 saídas, para os que lá vivem não enfrentarem os olhos da piedade dos que dão com a mão direita.
O fosso da desigualdade acentuou-se nos últimos anos e acelerou com a pandemia as diferenças sociais e económicas, cada vez mais presentes.
As pegadas da miséria estão por todos o lado, a uns quantos quarteirões pra lá do Louvre ou do Ritz.