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No próximo dia onze, o PSD elege o seu Presidente. Num Partido de marcada matriz pluralista, fundamental para o exercício da democracia, é não apenas natural como desejável que se debatam propostas diferenciadoras, porém interdependentes e impregnadas de um forte sentido de responsabilidade, imprescindível para o progresso. Como principais temas de contestação interna encontram-se a coesão nacional, perante um retórico da descentralização, bem como a necessidade do PSD se afirmar como alternativa credível, perante a cada vez mais indistinta intervenção da sua atual direção.
Aquando do processo de seleção das listas às Europeias, Rui Rio mostrou não apenas um profundo desrespeito pelas estruturas autónomas do Partido e das autonomias regionais, como desconhecimento quanto à importância estratégica nacional da sua relevância num cenário europeu. Mas a desvalorização não se circunscreveu aos Açores e à Madeira, nem tão-pouco a apenas um ato eleitoral. Ao justificar-se com a relevância do número de votos, Rio evidenciou o que realmente prioriza e colocou por terra todo o seu discurso de valorização do interior e do Sul do País, com menor densidade populacional do que o litoral ou o Norte. Fraturou-nos pelos números.
O erro de Rio não se queda pela sua incapacidade de congregar. Está refém de um discurso divisionista que criou para chegar ao poder no seio do PSD, que acusou de neoliberal, e que os partidos de esquerda habilmente trazem à colação. Rio alimentou um monstro, esquecendo que seria o primeiro responsável por domá-lo se assumisse a liderança do PSD.
Enquanto a atual direção do PSD se perde na defesa da uma identidade que ela própria questionou, o PS movimenta-se numa habilidade de polarizar sem ter de recorrer a uma classificação que hoje nada diz ao cidadão. Numa sociedade pacata, apresenta-se como contemporizador, ressalvando as pretensas capacidades negociais do seu líder. No presente cenário, o PS intitula-se como o único Partido capaz de negociar com todos os restantes, estratégia para a qual o PSD lhe oferece via verde na sua atual incapacidade de desmascarar uma concertação que é mais oportunista aos Partidos de esquerda do que benéfica aos Portugueses.
Prosseguimos, assim, sob uma governação acima de tudo cautelosa, que não se pode dar ao luxo de perder de vista o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda, para a qual o PSD lhe oferece a mão para evitar situações em que seríamos atirados para o descalabro de isolacionismo económico. Na sua ânsia de se colar ao centro, Rui Rio não está a ser capaz de evidenciar que o PS se encontra preso num abraço atávico, que obsta ao desenvolvimento. Tem mais vontade de se aproximar do que em evidenciar que o caminho deve ser diferente, correndo o PSD o sério risco de, num futuro não muito distante, perder a sua identidade e relevância na política portuguesa. Pior, é neste cenário em que o PSD não consegue marcar a diferença no sentido de forçar o Governo e o PS a aproximar-se das suas propostas, que o País se afunda na cauda da Europa no que concerne ao investimento público e ao progresso. É, pois, preciso mudar.