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Nas montanhas de São Luiz de Paraitinga, cidadezinha paulista no Brasil, o silêncio é mais sólido que o samba de todas as nuvens. Baila com os raios do sol na ponta das margaridas na cidade de Pedro, a cidade imperial... E do outro lado da costa, o povo nas praias se esquece e encosta o rala-e- rola perto das barracas das “tias” que descem os morros para preparar a caipirinha do povo-Leblon, povo-sem-noção das praias do Rio e de muita costa brasileira…
Das montanhas de São Luiz de Paraitinga, cidadezinha que me lembra da Pasárgada que conheci pelos versos do Poeta Manuel Bandeira, “vou-me embora pra Pasárgada...”, só se vê o horizonte que não se vê: o sonho de Shangrilá tão perto do abismo. E tão distante do ruído eterno das conversas que zombam da ciência, mas ainda têm fé na economia…
Da planície de São Luís do Maranhão, capital do estado nortista do Brasil, onde o sol neste verão seco de tão úmido se estende ao esquecimento, apenas se sonha com as marchinhas que exalam fogo ao alto das montanhas de São Luiz de Paraitinga – que neste 2021 ficou silente no carnaval! Morrem os versos na areia: do que não é praia dos paralelepípedos monstruosamente sujos de tanto esquecimento e das praias amarelas de tão frequentes, em tempos de pandemia.
O tempo atravessou as Pontes Entre Nós e fez os Pedros se conhecerem: Alcântara deu as mãos ao Abrunhosa! E no imaginário da dona Luana, vizinha da Rita que vende doces na esquina por onde passam todos os carros alegóricos do carnaval paraitinguês, Pierrot sempre convida Colombina à dança das máscaras e a música medieval é a promessa mais sincera de todas as eras. Do alto dos montes, dona Luana suspira e sente que as pontas dos pés tocam os paralelepípedos não desta terra, mas de longe, de uma Veneza que só consagra festas e onde o povo escolhe entre o vinho de duas ou três colheitas com o pão de todas as naturezas e a festa da massa que não é chinesa..
Das montanhas do Himalaia, viajam os tibetanos para as Américas, que só conhecem dos Jogos Olímpicos via tv e da liberdade onírica de que são capazes todos os Carnavais, mesmo quando já é quaresma num ano sem carnaval! Por todos os lados, este ano, as danças viraram nuvens e o sol só aquece quando o pão do afeto desponta luminosidades extremas: aqui ou Xangrilá, “as mesmas coisas são” (ecoando um verso bem verdadeiro do poema “Lugares Comuns” de Ana Luísa Amaral) sem carnaval, no ócio do ofício de imaginar, no drible permanente da falta de fé, na grata fortuna da fé que espanta o que é óbvio demais, cedendo lugar aos rumos onde os ramos se tornam árvores, novos caminhos, pássaros...e lamas! Depois, tornam-se todos cegonhas e nuvens a brilhar em carnavais diários, do fim do mundo que não é Pasárgada, mas nas Pasárgadas necessárias ao todo dia, o dia todo, para que nos lembremos das fantasias e dos sonhos...
- A autora escreve em português do Brasil