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A economia digital do biscate faz parte da economia informal e engloba todo o pequeno serviço pontual e remunerado
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A ideia do biscate não é nova e traduz sempre aquela situação do pequeno serviço remunerado que se faz para além do trabalho habitual ou de forma não regular. Serve para compor o vencimento ao fim do mês quando as despesas aumentam ou quando o vencimento é pequeno.
Para equilibrar a balança existem duas soluções: a) cortar nas despesas supérfluas; b) aumentar o rendimento.
Por outro lado, a biscatada faz parte da economia informal, pois muitas das vezes não é contabilizada na produção nacional, no PIB (produto interno bruto) ou quando muito é apenas estimada e nem sempre paga impostos.
É interessante perceber que a inteligência artificial, os algoritmos, a Uber, o Airbnb, as redes sociais continuam a necessitar de intervenção humana para validar conteúdos.
Por exemplo para impedir que diariamente seja publicado material gráfico extremo, como imagens e vídeos de violência extrema e de morte é necessário contratar humanos para fazer essa revisão atempada. Para além dos riscos de exposição continuada a esses conteúdos o que interfere com a saúde mental dos trabalhadores, provocando diminuição gradual da compaixão e da empatia ao longo do tempo, o valor pago à peça é baixo.
Por cada tarefa realizada e verificada pelo requerente, é pago ao trabalhador independente (freelancer) uma pequena quantia que pode variar entre 0,01 e 25 dólares. Claro que as tarefas melhor pagas são as mais procuradas, restando opções menos interessantes para quem quer começar a fazer biscates.
De acordo com um estudo publicado em 2021 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), feito a cerca de 12 trabalhadores em plataformas digitais distribuídos por 100 países, apurou que a maioria dos participantes tinha idade inferior a 35 anos, elevados níveis de formação académica e rendimentos médios de pouco mais de 3 euros por hora. Cerca de um terço afirmou que o trabalho na plataforma digital era a sua principal fonte de rendimento, com uma proporção significativa de mulheres em países em vias de desenvolvimento.
Estes não são os «nómadas digitais» que tanto sucesso têm alcançado. Assim, a economia do micro-trabalho e das micro-tarefas sob gestão algorítmica está longe de poder resumir-se ao «nomadismo digital» e contribui de forma profunda para a transformação da sociedade actual, conforme explicado no ensaio «Os Algoritmos e Nós» de Paulo Nuno Vicente.
O mercado de trabalho está cada vez mais flexível a favor do empregador, onde impera o trabalho à peça ou à hora ou à tarefa, sendo conhecidos por «colaborador» ou «freelancer», aqueles que fazem os biscates de forma independente ou autónoma.
O trabalho tradicional a tempo integral está a desaparecer para dar lugar ao trabalho precário onde trabalham para vários clientes desenvolvendo diversos projetos ou tarefas.
O surgimento das plataformas digitais de negócio vieram facilitar o crescimento da economia digital do biscate. A «uberização» do trabalho está à frente dos nossos olhos e parece ser uma alternativa para seguir pela via do trabalho independente, deixando de lado a proteção social e o sistema de saúde.
Desapareceu a segurança no trabalho, bem como os benefícios e proteções tradicionalmente associados ao contrato de trabalho a tempo integral onde existem direitos e deveres consagrados na lei do trabalho.
De facto, a própria legislação do trabalho tem vindo a remover obstáculos para permitir o crescimento da economia digital do biscate.
Se a economia digital do biscate é a tendência para onde se dirige a maior parte da mão de obra disponível e à procura de trabalho, quais são as oportunidades que se apresentam?
O desenvolvimento de novas competências, a persistência, a deteção de novas oportunidades no mercado, em função da economia do biscate ou a orientação para segmentos de mercado com maior poder de compra.
Chegou a economia do biscate, vamos entender a nova realidade e perceber como poderá ser transformada em oportunidade de negócio.
Como poderei acrescentar valor ao meu trabalho, ao meu projeto ou ao meu negócio?