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Quando a ignorância passa a ser uma constante na vida sem nada para questionar
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Na sexta-feira passada fui assistir ao lançamento do livro «O Elogio da Ignorância» de Paulo Vieira de Castro. Mesmo sem ter lido o livro na íntegra, que fala da relação de um professor e os seus alunos, entre outras questões, o título dá bastante que pensar.
Duas palavras antagónicas que se tocam: o elogio e a ignorância.
Dou comigo a constatar que está na moda ser ignorante e aceitar tudo o que é proposto sem discutir ou questionar. Há uns anos atrás ainda se dizia: «não percebo nada disso», quando alguém se queria livrar de um problema, mas agora a ignorância é total e abrangente.
Parei por uns minutos para observar com sentido crítico as horas que eu gasto no telemóvel em detrimento de outras tarefas mais importantes, como ler, escrever este artigo ou escrever poesia na página do Facebook(https://www.facebook.com/joao.pires.escritor/?locale=pt_BR).
Depois fui analisar os conteúdos das redes sociais, das notícias, das ofertas de empréstimo que recebo regularmente, ou das receitas caseiras para emagrecer ou da bebida mágica para limpar o fígado ou eliminar o colesterol. Conteúdos que parecem importantes e úteis à primeira vista e no fim não servem para nada. A última tendência que anda por aí é beber água com uma pitada de sal e vá-se lá saber o que mais.
Seria importante parar um pouco todos os dias para desvendar esta cortina que nos separa da realidade. Existem filtros que nos impedem de ver a realidade tal como ela é sem recurso à fatalidade, ao destino ou aos bons costumes. Uns veem tudo com o filtro cor-de-rosa, outros veem tudo negro, outros ainda interpretam a realidade pelo modo como foram educados.
Mas a realidade será mesmo assim?
Seremos eternamente ignorantes? Será possível aceitar humildemente a falta de conhecimento, a busca constante pelo saber?
Gostaria de ter uma mente aberta para novas ideias, sem pré-conceitos, o que poderia levar a uma compreensão mais profunda e autêntica do mundo ao meu redor.
Ao contrário da ignorância arrogante - «já sei tudo» - que faz com que a pessoa acredite que sabe mesmo tudo sem nunca se esforçar para aprender, para ir além da cortina de fumo, a ignorância humilde é uma postura que incentiva a curiosidade e a procura pelo conhecimento.
Tenho um telemóvel na palma da mão que me transmite a falsa sensação de que tenho todo o conhecimento ali mesmo à distância de um clique. Mas é preciso ter presente que aquele tipo de conhecimento é redundante e limita-se ao universo da Internet. Trata-se pois de um conhecimento fechado e limitado, de uma informação demasiado padronizada e inquestionável até o que dificulta o pensamento próprio.
Imagine-se conduzir um automóvel em dia de chuva, mas sem limpa pára-brisas. As gotas de água escorrem pelo pára-brisas abaixo e deturpam a realidade, tornando-se em alguns casos quase impossível de ver a estrada ou até de evitar um acidente.
Mas como desvendar a cortina da realidade?
A realidade é complexa e não tem apenas uma leitura, pois existem diferentes teorias, perspectivas e interpretações, assim como as culturas.
Algumas pessoas acreditam que a realidade é uma construção subjectiva da mente humana e outras afirmam que é uma entidade objectiva e independente de nós.
É importante questionar, investigar e experimentar para descobrir o que é real e, às vezes, pode ser útil olhar para além das percepções ou crenças pessoais em busca de uma visão mais ampla e objectiva.
Por tal motivo será importante lembrar que existe uma cortina de fumo, de nevoeiro ou lentes desfocadas que pode modificar a interpretação da realidade.
Será importante elogiar a ignorância apenas para ter a noção da sua existência.
Prepara-te para o imprevisto e a ignorância anda por aí.