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Neste querido mês de Agosto é o tempo de regressar a casa.
A casa que um dia deixaram muitos emigrantes que viram primeiro outro país antes de conhecer o mar português ou mesmo Lisboa, a capital da sua terra.
Mas o retrato agora é outro.
Portugal, hoje é um país de migrações que varia entre o regresso em férias, o retorno ou repatriamento de muitos nacionais portugueses, a entrada maciça de turistas e o acolhimento de centenas de milhares de imigrantes.
Até as reportagens televisivas falham quando o repórter confunde turistas franceses com emigrantes, como é o caso do jornalista que se encontrava junto à fronteira de Vilar Formoso e pediu ao agente da GNR para mandar parar um carro francês. O problema é que o carro trazia turistas em vez de emigrantes. Lá perguntou desconcertadamente: «Quantes óres à conduire duran lá viage?», conforme vídeo no Youtube.
Por outro lado, os ucranianos transformaram-se recentemente na segunda maior comunidade estrangeira a residir em Portugal, também atraídos pela legalização imediata. Portugal já recebeu 37 mil pessoas que fugiram da guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, quando a Rússia atacou o país vizinho. Desde então mais de 4 mil crianças ucranianas passaram a estudar nas escolas portuguesas e 2 mil adultos firmaram um contrato de trabalho em Portugal, de acordo com informação da ONU.
São esperados mais emigrantes em Portugal neste verão, após dois anos de restrições, impostos pela pandemia que veio adiar as férias para muitos portugueses que por esta altura voltam a casa. Este ano (2022), espera-se um aumento significativo no número de portugueses que regressam de férias, de acordo com o jornal Observador.
Voltam também as campanhas que alertam emigrantes que vêm de férias para as precauções a tomar, nomeadamente contra os incêndios, desta vez com o nome iniciativa Emigrante Chama.
Já na restauração continua a faltar a mão-de-obra. Os empresários do sector pediram ao governo incentivos e que se dinamize a contratação de imigrantes. As jornadas longas de trabalho e os salários baixos não atraem os imigrantes. Num restaurante onde costumo comer, sempre que visito Arcos de Valdevez, estranhei novos empregados, desde a última vez que tinha passado por lá. Havia imigrantes de Cabo Verde e de São Tomé sujeitos às condições oferecidas, mas atraídos pela facilidade da língua portuguesa para comunicar.
A migração continua a acontecer. Mais de 3 mil pessoas morreram enquanto tentavam chegar à Europa por mar em 2021, refere a ONU. Sem outras alterativas, muitos imigrantes recorreram a embarcações em péssimo estado de conservação. Muitos barcos de borracha perdem ar ou viram no oceano.
Se noutros tempos não havia água canalizada em Portugal, e mesmo assim os emigrantes portugueses construíam as suas casas já preparadas para a receber, agora são as alterações climáticas que estão a ameaçar a sua distribuição. O Norte da Europa vive confortavelmente à custa da agricultura intensiva portuguesa de produtos hortofrutícolas, onde se gastam quantidades insustentáveis de água. Assim é fácil anunciar a protecção do planeta a partir do Norte da Europa à custa do consumo de água no Sul, conforme publicado no Observador.
A Europa está a atravessar a pior seca dos últimos 500 anos e mesmo assim parece não haver medidas suficientes para estancar esta desgraça, até ao ponto de vir a perder a capacidade para fornecer água potável canalizada.
Se na «bidonville», as condições não eram piores do seu Portugal, na sua terra de onde um dia partiram à procura de melhor vida, também não seriam muito melhores. Era o tempo da Linda de Suza, com a sua canção “Um Português” (Mala de Cartão).
Também por essa razão, os emigrantes que um dia regressaram a casa de vez, construíram a sua própria casa, também conhecida pela casa do emigrante. De arquitectura popular, quase semelhante a um “petit château”, as "maisons dos avecs", como carinhosamente eram conhecidas, correspondem também à expressão de uma progressão social no país de acolhimento. Naquela altura traziam grandes novidades, com direito a um quarto para cada filho, por exemplo.
Nos anos 80, pedi aos pais de uma colega de turma para que comprassem no país de emigração a minha primeira máquina digital de calcular com painel solar. Paguei em escudos que seriam convertidos em marcos alemães. Era fascinante quantidade de novidades que vinham lá de fora, de Paris, do Luxemburgo e da Alemanha.
Agora, quem emigra são os filhos da classe média, que falam duas ou três línguas, possuem curso superior mas isso já não cai mal.
E ainda bem!
Boas férias.
19-08-2022
O autor produziu este artigo, da sua responsabilidade, para os leitores do jornal online LUSO.EU