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Aviso desde já que o texto de hoje será desconfortável. Confrontá-lo(a)-ei com a possibilidade de chegar a conclusões que poderão ser incomodativas, mas honestamente reflexivas. E se isso acontecer, você não tem que mudar. É o que é, pois como referi no título, o mal dos outros, por vezes, também pode ser o nosso bem.
As coisas boas e más estão constantemente a acontecer. Ou será que são apenas circunstâncias e nós é que sentimos a necessidade de as catalogar como boas ou más? Mas para isso, precisamos de critérios para comparar e então decidir. Mas, “bem/mal” para quem? Em relação a quê? Sim, até mesmo alguma coisa má para mim, pode ser boa para outra pessoa em outra situação!
Na passada semana, estive de férias em Itália e passei por Florença, Pisa e Roma. Nestes locais, à semelhança de outros tantos que tive o privilégio de conhecer noutros países, absorvi a sua história, cultura, beleza e gastronomia. O ser humano é realmente capaz de coisas fabulosas. Porém, dei por mim a refletir que muitas delas envolvem algum “mal” para outras pessoas. Será então razoável não desfrutar destas maravilhas porque envolveram sofrimento de outras pessoas? Este é o sabor “agridoce” que trago hoje simplesmente com o objetivo de desvendar um pouco do “outro lado da moeda”.
Inicio a minha posição com uma abordagem biológica. O nosso cérebro está constantemente preocupado uma coisa: sobrevivência! Isso pode assumir três formas: alimentação, segurança e procriação. É legítimo pensarmos em nós mesmos em primeiro lugar. Aliás, nos aviões, em caso de despressurização, os especialistas aconselham a que cada um coloque a máscara de oxigénio em si mesmo, para então poder ajudar terceiros independentemente das suas condições. Gente desmaiada não ajuda ninguém!
O bem e o mal são relativos. Repare, no desporto, uma equipa é campeã se todas as outras perderem o campeonato. O palácio de Versalhes que nos alegra a vista com as suas belezas foi construído à custa da miséria de outros tantos. D. Afonso Henriques teve que lutar contra a própria mãe para termos o país que temos hoje. Grande parte das catedrais, templos, aquedutos e outros tantos edifícios construídos em tempos de precária tecnologia foram construídos graças à escravatura. Temos também algumas incoerências quanto a estes julgamentos. O Coliseu de Roma era “mau” para a igreja pois alegam ter morrido muitos mártires (discutível pois as únicas fontes que relatam isso são cristãs), porém, optaram por usar o mármore que revestia esta construção para construir igrejas por toda a cidade. Com o tempo, algumas fações fanáticas cristãs destruíram estátuas e toda a entidade pagã, mas adotaram algumas ideias dos pagãos.
Ou seja, muito do nosso desenvolvimento implicou o sofrimento de alguém. Julgo que seja preciso ter também isso em conta quando apreciamos o “bem” que temos hoje! Podemos e devemos valorizar o que construímos, mas sem deixar de ter em mente as atrocidades cometidas. Ainda assim, não nos deixemos levar por utopias. Há sempre de haver vencedores e vencidos, beneficiados e prejudicados. O desafio é, então, encontrar a forma mais justa de o fazer. No meu entendimento, a meritocracia é um caminho, mas deixo isso para outro texto.