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Felicidade é um conceito muito vago e dependente de preferências individuais. Todos sabemos. Ainda assim, insistimos em procurar atalhos para este fim como se uma lista de “X” pontos nos fosse realmente garantir o bem-estar pleno. Se formos a uma livraria facilmente encontramos obras de “autoajuda” – como se um livro de outra pessoa, com outros padrões de felicidade fosse garante de eficácia em cada um de nós – que pretendem facilitar este processo com “As 10 regras para ser feliz”. Eu próprio já tive interesse nesses contos de fadas, e como tal não pretendo denegrir quem o faz, mas sim estimular ao pensamento crítico quanto a estes atalhos para a felicidade.
Ora vejamos. Desde os crentes, aos ateus e até agnósticos, não conheço nenhum ser humano que procure ser infeliz. Pode não saber tomar as decisões mais acertadas tendo em conta os seus objetivos, porém o querer é semelhante: estar bem, sentir-se realizado, evitar o mal-estar. Se todos temos conceitos de felicidade diferentes, parece-me absurdo dar conselhos a alguém de como ser feliz já que essa felicidade irá pertencer a essa pessoa. Ainda assim, admito que existem princípios básicos que podemos aconselhar uns aos outros... mas regras e mandamentos parecem-me descabidos.
Em vez disso, proponho uma reflexão e aceitação: a vida não tem um sentido por isso o mal ou bem que me acontece tem a influência das minhas ações, muitas vezes sem ter noção para onde estou a ir. Antes de me mandar a esse sítio que está a pensar - caso seja crente no sentido da vida – por favor tente compreender onde quero chegar. É possível ser feliz sem fazer grande coisa para isso – o que chamamos sorte –, como também é possível ter bons comportamentos e ser infeliz – o que chamamos azar. No entanto, o universo é tão grande e nós tão insignificantes que me parece presunção achar que algo está a me beneficiar ou prejudicar mediante as minhas ações. As coisas “são o que são”.
O sentimento de que “isto não faz sentido” é compreensível e só existe porque somos racionais. Acontece quando a vida não nos dá aquilo que achamos que merecemos. Que estamos a fazer o suficiente para obter/atingir um objetivo, mas mesmo assim, a vida não nos dá isso. É aqui que divergimos uns dos outros: “Se deus quiser”; “ainda não chegou a minha hora”; “se eu acreditar vai acabar por acontecer”; “porquê eu”; “graças a Deus consegui”. Procuramos então estabelecer uma relação de causa-efeito que pode NÃO acontecer, precisamente, porque existem infinitos fatores que nós não dominamos.
Por isso, a minha proposta é compreender que mesmo fazendo o bem eu posso obter o mal, e mesmo fazendo o mal posso obter o bem. É mesmo assim, injusta muitas vezes, a vida. Agora, isso não quer dizer que seja motivo para desistir da vida. O que proponho é apenas aceitar que isso acontece e mesmo assim seguir o caminho daquilo que consideramos boas práticas: cuidar da nossa saúde (física, mental e social) com bons hábitos de vida; ter sonhos, mas sobretudo adotar comportamentos que nos levem realmente a eles, ou pelo menos perto disso. Julgo que ninguém pensa chegar a astronauta sem saber ler e escrever.
“Bola para a frente” tem lógica. No jogo da vida a bola bate no poste, vai para a rua, rompe, e às vezes entra na baliza do outro lado. Não interessa o porquê, mas sim a manutenção do trabalho e a tentativa constante de melhorar. Pelo menos isso será o suficiente para deitar a cabeça na almofada e dormir tranquilamente. Pelo menos para mim.