
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
A Bélgica vai a eleições para eleger o poder local. O dia 14 de Outubro pode ficar na história da democracia belga, também pelo facto de haver candidatos das várias comunidades imigrantes, que se organizam para obter o maior número de inscritos nos cadernos eleitorais e assim granjearem os melhores resultados de sempre.
A comunidade portuguesa destaca-se pela falta de interesse, apatia política e até desdém. A comprovar isso, temos o número de inscritos e respectivos votantes nos actos que elegeram os representantes do CCP, que arrecadavam cerca de cem votinhos e consideravam-se felizes! Gritavam vitória, regozijando-se com a ideia de que ganhar por um ou por um cento era igual, quando sabemos que o melhor seria mesmo ganhar por mil; sem meios e sem força política, representavam-se a si próprios por onde apareciam. Vê-los era só mesmo naquilo que lhes convinha e que os pudesse iludir nalgum protagonismo. Com o passar do tempo, crescia também o sentimento da ineficácia do órgão de consulta para as políticas de imigração.
Toda essa evidência, que agora, tarde e mal, se procura corrigir, deve-se em boa medida, ao laxismo protagonizado pelos que, num passado recente e em tempo oportuno, declinaram responsabilidades, abandalhando a vertente do incentivo e da formação cívica. Um gigante e produtivo trabalho, poderia ter sido feito ainda no tempo do, já extinto, Conselho de País, depois substituído pela criação do CCP (Conselho das Comunidades), corria o ano de 1997. Passaram mais de 20 anos, sem que se levasse a cabo uma qualquer acção de fundo, pedagógica e de estímulo e que contivesse uma ambiciosa atitude impulsionadora para uma consciência cívica, activa e de compromisso…
Os pretendentes a concorrer às eleições deste ano, já se movimentam em acções no terreno com ousada e apaixonada tentativa de inverter tendências antigas, de sensibilizar e de transformar, impulsionando para a novidade, para o interesse e para a importância de tão significativo acto eleitoral. Alguns usando e abusando dos métodos e dos conceitos. Amarfanhando princípios e valores, com a ideia de que tudo serve, para ludibriar o povo. Sem freio, nem cadeia… Sem ética, sem honra, nem respeito! Apenas com a ideia de ganhar, seja a que preço for. Dispostos a vender a alma ao diabo, numa insolente sujeição a correntes políticas xenófobas. Há movimentos que nos sacodem e interpelam; já não chega estar atento à forma e aos conteúdos de campanha eleitoral; é preciso, acima de tudo, bom senso e consequentes escolhas.
A Comunidade que somos merece mais respeito e outra dignidade. Tem valor acrescentado e merece ser representada por alguém que tenha a noção do serviço e nunca o excêntrico sonho de se servir dela! Os portugueses na Bélgica gozam de estima e boa reputação! Integrados e integradores. Estabelecidos e ordeiros, contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento e a riqueza colectiva do país acolhedor.
Mas esta Comunidade, de todo exemplar, precisa de assumir outras responsabilidades que o tempo e outras circunstâncias vão impondo; em vários domínios com destaque para o interesse e participação cívica. Não se pode repetir o alheamento e desdém manifestados no passado, com desastrosos exemplos de participação. Como podem os nossos representantes agir e ter voz activa quando na base eleitoral que os elegem, constam apenas umas poucas dezenas de eleitores? É mais que tempo para reflectir e transformar, numa consideração e prioridade responsáveis.
As preferências e os desafios são uma incontornável realidade. Estamos minimamente preparados para as eleições comunais de Outubro próximo, onde existe a possibilidade de eleger compatriotas nossos? Já nos inscrevemos nos cadernos eleitorais, para poder votar? Qual o grau de interesse que dispensamos a estes assuntos de política local? Podíamos continuar as perguntas, para as quais só há uma resposta: Acção e compromisso. De todos, para todos! Só unidos se conseguem bons resultados.
Não podemos continuar neste desperdício, numa absurda negação dos nossos direitos, que também são deveres cívicos. Tanto tempo alienados, não podemos permitir que outros decidam por nós. Chegou o tempo de dar cabal resposta à nossa capacidade de interagir e de incentivo na gestão dos nossos talentos e recursos humanos! Façamos a nossa análise, a nossa escolha. Participemos, em consciência. Não nos demitamos deste compromisso, que vale para o momento presente e sobretudo para o nosso futuro comum!