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Há momentos na vida de uma pessoa que, independentemente de convicções religiosas, mais intensas, ou não, percebe-se que existe uma outra dimensão, imaterial, metafísica que, no mínimo, nos leva a refletir sobre: o que realmente somos; o que estamos a fazer neste mundo terrestre; de onde viemos e para onde iremos pós-morte biológica? Questões que, de alguma forma, nos intrigam e nos deixam algo inseguros, porque nos faltam as “certezas rigorosas e técnicas”, a chamada “verdade científica”.
No presente ano de 2018 e, mais concretamente, a treze de maio, celebram-se os cento e um anos da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, aos Pastorinhos, na Cova da Iria. Há quem acredite, quem duvide, quem não acredite, ou este tema lhe seja indiferente. Obviamente que se respeitam todas as posições, como de igual modo se pede que reverenciem as convicções daquelas pessoas crentes que, sem quaisquer dúvidas, aceitam as Aparições de Fátima.
Nesta reflexão, comemorativa de uma data tão importante para os crentes católicos, permitam-me analisar o evento pela perspetiva da Fé em Deus, através de Nossa Senhora de Fátima, na medida em que: «Fátima é uma das manifestações mais espetaculares da presença de Deus na História da Humanidade ao longo do século XX e com uma clara projecção para o nosso século XXI. Estamos perante um acontecimento que, quer queiramos quer não, faz parte da nossa memória coletiva e da nossa História não só nacional, mas do mundo. A História da Igreja em Portugal, a História de Portugal e mesmo a História Universal não podem ser escritas sem fazer uma referência a Fátima.» (TRINDADE, Manuel de Almeida (Bispo Emérito de Aveiro), in: CARVALHO, 2017:21).
Escamotear, ridicularizar, denegrir e humilhar os crentes cristãos por estes vivenciarem, intensa e publicamente, a Fé em Nossa Senhora de Fátima, parece configurar uma atitude, incompreensivelmente, preconceituosa, de alegada e infundamentada superioridade racional, como ainda, para algumas destas pessoas, entenderem que possuem um coeficiente intelectual muito elevado, quando, em boa verdade, no seio da população mundial crente, se multiplicam, precisamente, pessoas do mais alto nível racional e intelectivo, ocupando, na sociedade, posições de imensa responsabilidade, a que ascenderam, justamente, pelas suas inigualáveis capacidades: inatas e adquiridas; pelas competências profissionais e pelas dimensões pessoais, seja no âmbito material; seja no círculo mais íntimo da espiritualidade.
Invocar Maria, todos os dias do ano, todos os segundos da nossa vida, revela humildade, fragilidade humana para a qual pedimos, incessantemente, proteção, porque se a “Fé é que nos salva”, então devemos ser coerentes e não nos recordarmos d’Ela, apenas, quando estamos aflitos, de resto como refere o aforismo popular: “Só nos lembrarmos de Santa Bárbara quando troveja”.
A dimensão espiritual da pessoa humana, revela-se em todos os momentos da vida, mesmo naquelas criaturas não-crentes, porque sendo elas, igualmente racionais, inteligentes e pensantes, reconhecem, ainda que para si próprias, que existe “Algo” para além de toda a materialidade de que se compõe o corpo humano, e tudo o que o rodeia.
Nesta dimensão espiritual a figura santificada de Nossa Senhora de Fátima é incontornável, e pode-se considerar que o seu Santuário é um dos mais visitados do mundo, com uma afluência de peregrinos impressionante. Fátima, “arrasta” multidões de todas as idades, etnias, estatutos, condições socioprofissionais, crentes de todo o mundo, muitos dos quais têm um sonho na vida: visitar este simples, mas imponente, “Altar do Mundo”, o Santuário de Fátima, em Portugal.
Com efeito: «É evidente que Fátima tem uma importância especial, única, que não têm outros Santuários. A importância de Fátima deriva da importância da Mensagem, que é, antes de mais, um apelo à fé. Num mundo em que a fé está a desaparecer, em que os ateus aumentam, é um apelo ao mundo de hoje para viver a fé que os cristãos professam, não só teoricamente, mas concreta, vivida, existencial.» (MARTINS, D. José Saraiva, Prefeito Emérito da Congregação Para as Causas dos Santos, 2016, in: CARVALHO, 2017:117-118).
Os Portugueses, na sua maioria, certamente, que se orgulham de Fátima, do seu Santuário, da afluência de crentes peregrinos e, provavelmente, até de turistas religiosos, ou não, que, diariamente, visitam aquele local Sagrado, porque eles sentem-se: reconfortados nas suas dificuldades; mitigados nas suas dores; e esperançados numa interceção miraculosa da Virgem Santa e, não se pode (nem deve) duvidar de quem se considera “atendido” nas suas preces.
Numa retrospetiva político-ideológica, e talvez nacionalista, alguém afirmava, designadamente, no antigo regime ditatorial em Portugal, que o nosso país era conhecido por atributos muito específicos e consubstanciados em três “F’s”: Fátima, Fado e Futebol. Acredita-se que não haverá ofensa premeditada e humilhante contra a religião católica, então em vigor, inclusive, apoiada pelo próprio Estado, contudo, será sempre de bom-senso, separar estas atividades, muito embora, todas elas constituam atributos nacionais, nada despiciendos.
Importa, isso sim, nesta reflexão, analisarmos a importância da crença em Nossa Senhora de Fátima, ou seja: como podemos reforçar a Fé que a Ela nos une e, na medida do possível, trazer, pela conversão, mais aderentes a esta Força Espiritual que Ela nos transmite; aceitarmos a sua proteção, sem reservas nem complexos; implorarmos sempre a sua benevolência e interceção junto de Deus, porque, mesmo para os não-crentes, nada há a perder, pelo contrário, ganha-se: confiança, tranquilidade e paz.
Neste treze de maio de dois mil e dezoito, é tempo de festejarmos os cento e um anos da primeira aparição de Nossa Senhora de Fátima, aos três pastorinhos: Jacinta, Francisco e Lúcia, que tiveram a felicidade de desfrutarem da visão esplendorosa e da presença luminosa de Nossa Senhora de Fátima, que os premiou pela sua Fé, pela sua inocência e pela importância que iriam ter o mundo, de resto, e como se sabe: «Depois da beatificação de Jacinta e Francisco, em Fátima, pelo Papa João Paulo II, em 13 de maio de 2000, todos esperamos, ansiosos, que seja o Papa Francisco a canonizar os irmãos beatos e a presidir à beatificação de Lúcia.» (CARVALHO, 2017:141).
Hoje, é cada vez mais necessário vivermos de forma superior, precisamente, adotando uma cultura de grandes princípios, valores e sentimentos, onde a religião tenha um lugar de destaque e, na circunstância, nós, Portugueses, possamos continuar a venerar a Virgem de Fátima, depositando n’Ela: as vicissitudes da vida; orando para que Ela nos defenda de todos os males possíveis, tal como a Mãe que ama, intensa e infinitamente os seus filhos; curiosamente, não é por acaso que o “Dia da Mãe”, também se celebra no mês de maio e não é uma feliz simultaneidade, mas antes, uma opção de Fé.
Virgem Mãe, também a nossa Mãe biológica, ou adotiva, ou de acolhimento, todas, porém, com amor de Mãe, que nos amam, nos orientam na vida, que nos protegem até ao limite das suas forças. Esta Mãe Celestial, que sempre vela por nós, tem de ser venerada, respeitada e a Ela lhe pedimos para nos acompanhar sempre, porque sem esta dimensão espiritual, e a Fé nesta Mãe adorável, teremos muitas dificuldades em nos afirmarmos nas duas dimensões que integramos em nós: o corpo físico; a alma inefável espiritual.
Neste cento e um anos de devoção intensa a Nossa Senhora de Fátima: é provável que continuem a existir dúvidas sobre as aparições de 1917; é compreensível que os não-crentes continuem a manterem-se afastado de todas e quaisquer cerimónias religiosas, peregrinações, cumprimento de promessas e de outras manifestações de adoração à Virgem Celestial, até porque, em boa verdade, compete aos crentes, exteriorizarem respeito por tais comportamentos.
Em todo o caso, pode-se aceitar que: «A mensagem de Fátima mostra-nos uma experiência universal e permanente: o confronto entre o bem e o mal que continua no coração de cada pessoa, nas relações sociais, no campo da política e da economia, no interior de cada país e à escala internacional. Cada um de nós é interpelado a corresponder ao chamamento de Deus, a combater o mal a partir do mais íntimo de si mesmo, a compreender o sentido da conversão e do sacrifício, em favor dos outros, como fizeram os três pastorinhos, na sua pureza e inocência.» (Ibid.:130).
São biliões as pessoas que em todo o mundo creem em Nossa Senhora de Fátima, independentemente do nome que se possa seguir ao título de “Senhora”: Fátima, Aparecida, Lourdes, Dores, Rosário, Minho, Assunção, Remédios, Desatadora dos Nós, Imaculada Conceição, dos Milagres e tantas dezenas de outros nomes. Nossa Senhora é sempre a mesma, una e indivisível, Mãe de todos nós, que nunca nos abandona, se quisermos sintetizar, diríamos: Nossa Senhora do Mundo, ou Nossa Senhora da Paz.
Na celebração dos cento e um anos as aparições invoquemos Nossa Senhora de Fátima, roguemos-lhe que conceda a todas as pessoas e ao mundo; saúde, estabilidade, segurança, amor, felicidade e paz e não esqueçamos que: «Na sua dupla dimensão mística e profética Fátima – na sua mensagem e no seu Santuário – tem uma missão a cumprir na Igreja e no mundo: ser farol e estímulo para a conversão pastoral da Igreja e critério e bússola a orientar o compromisso dos cristãos nos conflitos do nosso mundo» (Ibid.:136).
Bibliografia.
CARVALHO, José, (2017). Francisco e Nossa Senhora. Um Amor Incondicional. S. Pedro, do Estoril: Prime Books