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Pede‑Santa‑Ana. A parábola dos cegos



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            Bruegel, o Velho, inspirou‑se numa parábola bíblica — caso um invisual guie outro, ambos cairão num buraco — e pintou A parábola dos cegos (1568), que hoje integra o acervo do museu de Capodimonte, na cidade de Nápoles. No quadro, em meio campestre, o cego condutor tombou num aguaçal, o que se lhe segue está a cair e os restantes visivelmente terão a mesma sorte.

            A igreja que nele se vê fica em Pede‑Santa‑Ana, uma aldeia do Brabante Flamengo a poucos quilómetros de Bruxelas. Ganhou cartaz por causa da referida obra de Bruegel e chama curiosos ao lugarejo. Tem janelas bonitas, de sopro gótico, mas não arrebata.

            Sentimos a omnipresença dos efeitos da pandemia de covid‑19 logo que chegámos a Pede‑Santa‑Ana. Em frente a casa de arquitetura tradicional, um anúncio propunha o trespasse ou a locação de um restaurante. Conforme nos explicaram, a quebra de negócio decorrente da crise sanitária impossibilitou os respetivos proprietários de o manter. 

            Bruegel viveu em Bruxelas e várias vezes pintou em Pede‑Santa‑Ana. Os serviços turísticos locais desenharam um percurso pedestre, pontilhado de reproduções de trabalhos do artista, que começa e acaba na igreja. Predispostos a caldear cultura com natureza, seguimo‑lo. Todavia, cedo nos maçou a brochura de que ele constava, ambígua e impressa em neerlandês. Pusemo‑la de parte e guiámo‑nos pelo instinto.

            Não nos arrependemos. O passeio foi agradável, o tempo bem empregue. Pede‑Santa‑Ana é, sobretudo, uma terra de pascigos, de hortas familiares e de moradias com quintais de área generosa. Vimos vacas, ovelhas, cavalos e — pasme‑se — uma dezena de alpacas. Demorámo‑nos diante de uma casa de campo muito bonita. Oblonga, caiada de branco, tinha madeiramento à vista, telhado cerâmico de duas águas, chaminés, lucarnas, janelas com portadas verdes e porta da mesma cor. Supu‑la habitada por agrobetos donos de um Aston Martin. Recusaria apenas os buxos do jardim. Não questiono a perícia dos topiários que ali se esmeraram, mas cercá‑la‑ia somente de relva.

            Afora alguma vegetação escrapanosa, a natureza mostrava‑se louçã e fazia jus à primavera: cerejeiras floridas, verdura, pastagens vicejantes, narcisos em barda, magnólias carnudas, buxos crivados de flores jalnes, bagas rubras no loureiro‑japonês.

            Da estampa rústica destoava um grande viaduto ferroviário. Depois de lhe dizer que ele é conhecido por «viaduto das 17 pontes», o leitor poderá imaginar a magnitude dessa obra de engenharia.

            Os ares e as imagens rurais e, pela vertente negativa, o cansaço acumulado durante meses de labuta fizeram‑nos antolhar a reforma. Livres do peso dos dias úteis, queremos ter vida de entrecho simples: passeios a pé, livros, conversas e silêncio, bom sexo, boa mesa e também um valhacouto no campo, com dois cães e galinhas poedeiras.

            Caminhos vicinais levaram‑nos a Itterbeek, aldeia próxima de Pede‑Santa‑Ana. De lá trouxe uma só nótula. Passámos defronte das instalações da Timmermans, empresa que há mais de trezentos anos ali fabrica a lambic, uma cerveja resultante de fermentação espontânea, possível graças aos micro‑organismos existentes no ar da região. Cerveja forte, com teor elevado de álcool, a sua fama espalhou‑se além‑fronteiras.

            Desde a visita a Pede‑Santa‑Ana, no primeiro dia de abril, penso amiúde na parábola dos cegos. O tempo atual a cada passo a presentifica. Menciono dois exemplos que particularmente deploro.

            Primo, a ascensão de populistas, cegos de desejo de poder, que lideram projetos atentatórios dos direitos humanos e que, com base na demagogia e no soundbite, atraem cada vez mais pessoas, despolitizadas e não só. A fim de o contrariar e de manter os cidadãos no arco democrático e humanista, a sociedade deve ser exigente, esclarecida, entender a história e os seus horrores. E aos políticos cabe dar o exemplo, exercer o múnus de forma digna, pugnar contra a injustiça e corrigir as assimetrias.

            Secundo, a escolha feita pelos negacionistas da covid‑19. Menoscabam a ciência, mostram cegueira, lastimo que tantas almas os sigam. Aliás, a sua ablepsia é manifesta quando, em grupo, sem máscara e sem o necessário distanciamento, cantam a Grândola, vila morena, um hino à fraternidade. Propiciando o contágio e atrasando o «regresso à vida normal», são solidários com os profissionais de saúde e com os que não podem trabalhar por causa da pandemia? Firmes na sua teima, ninguém espera que mudem de aviso. Pode levar‑se o cavalo ao bebedouro, é impossível obrigá‑lo a beber (não equiparo pessoas a animais, apenas me sirvo da imagem).

 

 

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Paulo Pego
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