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Quartos de hotel



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   No Original Sokos Hotel Albert, em Helsínquia, encontrei a minha alma gémea em matéria de alojamento: a escritora, tradutora e crítica literária finlandesa Salla Simukka.

    Em texto publicado na revista Metropolitan Times[1], disponível no meu quarto, a literata confessa que gosta de se instalar em hotéis, mormente nos que fazem parte de cadeias hoteleiras. Aprecia a limpeza, a ordem e o cunho impessoal dos aposentos, que nela criam a ilusão de entrar ali como primeiro hóspede e lhe oferecem a possibilidade de se transformar na pessoa que quiser ser (Salla Simukka enquanto prius não existe).

    Eu sei que não é trendy senti‑lo nem dizê‑lo, mas aqui vai: dou primazia a albergues de cadeia. Eles são espaços frios e de anonimato que, na esteira de Marc Augé[2], podemos qualificar de «não‑lugares», mas os respetivos quartos, cómodos e funcionais, são os parênteses de que preciso nessa escrita que é a viagem, longa ou não, por paragens próximas ou distantes. Já era assim quando, sozinho, andava numa fona pelo mundo e à noite carecia de um conforto real e sem grandes palavras ou diálogos. Agora, que passeio acompanhado, elejo a slow travel e procuro fundir‑me com o lugar, continua a ser do mesmo jeito. A propósito da Arrábida, Agustina Bessa‑Luís escreveu que ela «atraiu um turismo alarve, outro snobe e simulando ser entendido»[3]. Durante a jornada, amiúde deparo com manifestações desses dois tipos, sobretudo do primeiro. Os quartos standard e não distrativos consentem que mais depressa me regenere do dia de maus encontros e faça a indispensável ablução. Eles têm dimensão de refúgio.

    Por vezes, hospedo‑me em hotéis de charme. Em Rothenburg ob der Tauber — terra que, conquanto integrada na Rota Romântica, só é própria para devaneios amorosos a partir do crepúsculo que a livra da horda de visitantes —, instalei‑me há pouco tempo num gracioso estabelecimento desse género, em quarto equipado de leito com sobrecéu e de outros indutores de lascívia. Não sei se em Rothenburg existe acomodação padronizada, sei que ante certas circunstâncias gosto de pousos com charme. Mas, insisto, eles não gozam da minha preferência.

    Simukka menciona um rol de problemas que teve em hotéis: barulho com origem no exterior ou nos quartos vizinhos, temperatura muito alta ou baixa, aparelho de ar condicionado ruidoso, ralo entupido, chuveiro que não cumpria ou tão ultramoderno que ela não atinava com o seu jeito de funcionamento. Para mim, o maior dos incómodos é o cheiro, ainda que leve, a tabaco, e o mais recorrente dos contratempos tem sido, por má proteção da banheira ou da cabina do chuveiro, a casa de banho alagada depois do duche. Seja como for, nada que me impeça de ali ser feliz.

    No seu abrigo perfeito, Simukka não teria de interagir com o pessoal de serviço nem encontraria os arrumadores do quarto. Compreendo‑a, sobretudo no que respeita à tardinha — a «essa hora dos mágicos cansaços», de Florbela Espanca — e à noite. Por norma estou fatigado e quero concentrar as palavras e as forças que me restam na minha companheira, na preparação do dia seguinte, nalguma leitura ou escrita. Assinalo todavia que, de semelhante interação, já colhi ensinamento. No Holiday Inn Express, em Manama, capital do Barém, os funcionários eram muito gentis e, de forma sincera, perguntavam‑me sempre se tudo corria bem e se precisava de alguma coisa. Eu sabia quão miseráveis eram as condições de trabalho e de vida desses imigrantes (da Indonésia, das Filipinas e de outros países asiáticos), pelo que a sua conduta enternecia‑me e desarmava‑me. Ela aligeirou o meu temperamento e o meu jeito, até aí inteiriço. Creia o leitor: para mim, isto foi importante e ajudou‑me a relativizar as adversidades, a convertê‑las em questiúnculas.

    O aposento dos sonhos de Simukka inclui banheira, roupão de banho, chinelos de quarto, chaleira elétrica, escrivaninha e boa vista. Eu sou peco a pedir, contento‑me com luz de leitura sobre a cama, mesa de trabalho e bidé (ou, como nas casas de banho do Japão, retrete com jatos de água para os cuidados comezinhos de higiene, ou então, para o mesmo efeito e usual na Finlândia, um pequeno chuveiro ao lado da sanita).

    Sem complexos, Simukka diz que de boa vontade paga um quarto de nível superior ao básico, pois nele passará mais tempo que o comum dos viajantes. Prefere gastar dinheiro nisso a deixá‑lo num bar. Assino de cruz!

    Ao voltar a casa depois de dormir em albergue, Simukka acha que a sua cama é o melhor pouso do mundo, aldemenos por um par de noites. A autora alvitra umas curtas férias na cidade de residência, com alojamento em hotel. Daí adviria nova apreensão dos locais conhecidos. A ideia atrai‑me. Vou percorrer Bruxelas e a Bélgica sem a vista turvada pelos anos que aqui levo. Com o material recolhido, talvez escreva um livro inspirado na Viagem a Portugal de José Saramago.

[1] SIMUKKA, Salla, «A room of her own», Metropolitan Times, 1/2019, p. 28.

[2] Cf. AUGÉ, Marc, Non‑Lieux. Introduction à une anthropologie de la surmodernité, [s.l., mas impresso em Lonrai], Éditions du Seuil, 1992, passim.

[3] BESSA‑LUÍS, Agustina, As terras do risco, Lisboa, Guimarães Editores, 1994, p. 159.

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Paulo Pego
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