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Um dos desejos que foram sendo sufocados ao longo de décadas foi andar de mota.
Mas as duas curtas experiências que tive no passado não correram muito bem.
A primeira foi no parque de campismo, num caminho em terra marcado por rugas escavadas por pequenos cursos de água, que eram conduzidos pela ribanceira cheia de arbustos até ao rio, lá ao fundo. O terreno era irregular e qualquer bicicleta ou mota andaria aos saltos.
Depois de passear à boleia com o meu amigo pelas redondezas do parque natural, chegou o momento. Ele convidou-me para experimentar a 125.
Eu que estava habituado ao equilíbrio da bicicleta, não me fiz rogado, esquecendo que o lugar dos travões era diferente e que ainda havia que engrenar as mudanças com o pé esquerdo.
Lá me sentei na mota, ele disse-me para apertar a manete esquerda e pressionar para baixo com o pé esquerdo o pedal das mudanças.
“Agora largas devagarinho a manete esquerda e aceleras só um pouquinho.”
Apesar de tudo ter começado em “inho”, a história acabou em “ão”, porque dei um trambolhão dois metros à frente. Sorte de não cair ao rio, apesar de me ter esfolado na anca esquerda sobre terra com aquelas pequenas pedrinhas que se entranham na pele. Tive trabalhos para o resto da tarde. Tirar pedrinha por pedrinha da carne.
“Então?” perguntou ele.
“Estou bem” respondi tentando transparecer alguma tranquilidade.
A segunda e última experiência ocorreu no norte de África com uma scooter alugada. Daquela vez era eu que transportava alguém comigo. Viajamos em grupo do hotel até à cidade. Mais tarde descobri que o homem que havia alugado as scooters tinha vindo no nosso encalço para ver o nosso comportamento com as suas meninas. Apesar da viagem ter corrido sem percalços, senti-me desolado, pois ele havia apontado o dedo para mim e feito declaração pública, em tom acusatório: “Ele conduz mal”.
Durante a nossa vida existem acontecimentos marcantes que nos convidam a repensar a nossa existência. Sejam experiências individuais, como uma doença que nos atira para uma cama de hospital, ou fenómenos coletivos como o caso da pandemia. Esses são momentos que nos arrancam obrigatoriamente da rotina, da casa-trabalho, de casa-escola ou outros e nos forçam a repensar a vida. Muita gente mudou de vida e eu apenas quis aprender a andar de mota.
Muito mais tarde, quase a completar 4 décadas de licença de condução de veículos ligeiros de passageiros, sou confrontado com a questão, de uma forma inesperada. Desta vez foi o meu filho: “Quero uma mota” pediu.
Pensei, pensei. Não gostei que os meus pais me tivessem dado um incontornável não quando tinha a idade dele. Mas também não queria que ele tivesse uma mota sem qualquer tipo de aprendizagem.
Não sei como é por aí, mas em Portugal é permitido conduzir motas de 125 de cilindrada, com potência não superior a 11 kw (15 cv), a quem tem a carta de condução B, para veículos ligeiros de passageiros.
Mais uma vez, não tinha vontade de cortar aquela vontade ao meu filho, mas queria que ele aprendesse a circular na estrada, primeiro com carro. Nas aulas de condução em veículo ligeiro de passageiros pode aperceber-se das vicissitudes do trânsito e mais tarde poderia seguir para as aulas de mota.
Depois de eu andar na estrada sentado num carro e de conduzir de forma mais prudente à medida que a idade nos dá mais maturidade, andar de mota torna-se ainda mais especial mas também mais consciente. Era esse o meu entendimento sobre motas.
Não sei como é por aí, mas em Portugal parece haver mais respeito com os ciclistas. Andar de moto continua a exigir ainda mais atenção e foco.
Por último, nunca foi sensato ver filas de carros em direção à cidade apenas com um ocupante: o condutor. Trata-se de um desperdício de combustível e de tempo nas filas de trânsito, o que é desgastante, caro e mais poluente. A mota pode ser uma boa alternativa aos carros e pode coexistir com as bicicletas e com os transportes públicos que um dia virão a ser totalmente gratuitos como forma de atrair mais passageiros, poupar o ambiente e enfrentar as ameaças climáticas.
Talvez este seja um sonho quase a tornar-se realidade, fora do tempo. Provavelmente será melhor ideia conduzir uma mota elétrica, nos tempos que correm.
Deixa aqui nos comentários qual é a tua experiência com as motas. Tens mota? Para passeio ou para deslocação para o trabalho? Nunca andaste de mota?
Este artigo foi escrito por um ser humano ao sabor dos seus pensamentos, com as suas dúvidas e erros, sem recurso à inteligência artificial, porque com emoção sabe melhor!
Tá a andar de mota!