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Um jovem de 18 anos e meio suicidou-se pelo fogo. A ocorrência verificou-se em Ille et Vilaine, França, numa empresa de marcenaria, próximo de Vitré: a fábrica Pasquet.
Meses atrás, este processo esteve na moda, sem deixar, contudo, de ser chocante. Normalmente, estes jovens autoimoladores assumiam deste modo uma posição de protesto contra qualquer coisa de importante: normalmente situações extremas de injustiça, guerras, atentados à liberdade individual ou colectiva. O caso de Vitré, contudo, ultrapassa a capacidade normal de reacção: as organizações sindicalistas francesas apontam a direcção da empresa onde o jovem trabalhava como responsável pelo suicídio.
Tratava-se de uma direção «paternalista» e «feudal», segundo a notícia publicada em «Syndicalisme»: o dono é adjunto do presidente municipal, por acaso uma viscondessa.
Na fábrica trabalhavam quatro jovens guedelhudos, facto intolerável para as «pessoas de bem» de uma terra provinciana. Pasquet pretendeu convencê-los a cortar o cabelo para proporções «decentes», indo até coacção familiar e ameaças de despedimento.
Os operários consultaram as organizações sindicais: haveria protesto legal para serem despedidos por tal motivo? A inspeção do trabalho estudou o problema e confirmou que um eventual despedimento era ilegal.
A direcção de Pasquet, todavia, manteve as suas pressões. Três dos jovens aguentaram-se. O quarto cedeu. O facto assumiu para ele uma importância considerável, tendo a impressão de haver traído os camaradas. Num gesto de desespero, imolou-se pelo fogo dentro da empresa onde trabalhava.
Houve uma tentativa de opor um muro de silêncio ao acontecimento. Os jornais da região deram a notícia em poucas linhas. Mas o drama deixou as suas marcas. Por questão de boas maneiras, uma delegação patronal acompanhou o enterro. Foi nomeada uma comissão de operários, para o mesmo efeito. Os sindicatos também estiveram representados. A publicação a que atrás nos referimos, concluía deste modo os seus comentários ao triste acontecimento: «É escandaloso que uma autoridade patronal possa ainda exercer-se de maneira tão discricionária e que semelhantes atentados à liberdade e à dignidade continuem a verificar-se».