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A Hermenêutica aparece, historicamente, ligada à exegese dos textos e à compreensão dos mesmos. Surgiu o problema porque sempre existiu a possibilidade de mal entendimento (interpretação). A compreensão tornou-se um processo de análise e explicitação do texto. Nascida como exegese, a Hermenêutica apresenta-se, hoje, como exigência de interpretação universal.
A compreensão, além de ser uma apropriação do sentido de um texto é, também, compreensão realizada por alguém, inserido no seu próprio contexto histórico e cultural, que lê e interpreta com os seus pré-conceitos. É neste aspeto que a atividade de interpretar envolve algo de ontológico.
A compreensão envolve, constantemente, a linguagem, a confrontação com um outro horizonte humano, um ato de penetração histórica, por isso, a Hermenêutica abarca uma teoria da compreensão linguística e histórica, tal como funciona na interpretação do texto. Compreender é uma operação essencialmente referencial; compreende-se algo quando se compara com algo que já se conhece.
Toda a tentativa de compreender implica, necessariamente, a dialética pergunta/resposta, e entender significa ajustar constantemente a pergunta, isto é, pôr em jogo os pressupostos próprios, para melhor formular a pergunta; provoca este jogo dialético entre leitor e texto, que faz parte da experiência mais originária do homem, cujo modo de ser é compreender.
A linguagem é o meio em que a tradição se esconde e é transmitida. Toda a experiência ocorre na e pela linguagem. O homem tem um mundo, e vive no seu mundo, por causa da linguagem. Há, por assim dizer, um acordo, ou apalavramento, originário na constituição linguística do mundo, e é neste apalavramento linguístico (coletividade cultural) que se encontra a condição “sine qua non” para toda a comunicação e compreensão.
Como interpretação primeira da realidade e do homem, a linguagem ultrapassa uma mera razão histórica (fundista de horizontes), e torna-se numa razão hermenêutica (razão crítica), auscultadora da verdade da linguagem, como apalavramento da realidade. Perante a tendência esteticista de GADAMER, segundo a qual há que trazer tudo à linguagem, para proceder à sua revelação, há que opor uma tendência complementar, segundo a qual há que desenvolver criticamente a linguagem ao todo da realidade.
O homem vive numa permanente dependência duma interpretação do passado, e assim se ousa designar o homem de “animal hermenêutico”, que se compreende a si mesmo, em termos de interpretação de uma herança que está constantemente presente, ativante em todas as suas ações e decisões.
Interpreta e está sempre interpretado em relação ao mundo que constrói e em que vive, por isso, a sua existência como interpretante imerge no pré-conceito (experiência), porque o homem esteve, está e estará sempre carregado desta experiência tradicional, que pavimenta e sustenta a sua possibilidade de compreender.