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Nihil novi sub sole



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            Naquele dia de julho, a jornada de trabalho de Álvaro, assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Évora, começava com uma vigilância, cabia‑lhe evitar copianços por parte dos alunos que iriam prestar provas escritas numa sala de aula.

            Estava ele em guarda no momento em que chegou o regente da cadeira cujo exame decorria, o professor João de Ribeiro Vasconcellos (à nascença, o seu nome era João Ribeiro Vasconcelos, o resto foi acrescentado depois). Este prestou esclarecimentos aos alunos, certificou‑se de que eles não tinham perguntas a fazer e, por fim, dirigiu‑se para a porta da sala.

            Álvaro cravara novamente os olhos na assembleia de examinandos e surpreendeu‑se ao ver que Ribeiro Vasconcellos dele se abeirara.

            — É inadmissível que não me tenha acompanhado à porta, revela falta de educação.

            Álvaro denotou espanto abrindo os olhos, nada disse.

            — A sua colega Marta Conde, que faz vigilância no auditório, veio à porta comigo. E é filha do reitor.

            Carregou no tom da voz e repetiu:

            — E é filha do reitor.

            Álvaro deixou escapar uma escusa não sentida, queria que aquele homem dali se fosse embora. E ele saiu da sala, transportando consigo o lenimento do dia.

            Álvaro manteve‑se de atalaia, mas não logrou evitar os voejos do espírito. Ribeiro Vasconcellos, figura dada aos pregões morais e corretivos, ali reagira com veemência a uma nuga. No entanto, quando Álvaro foi vítima de uma tratantice tendente a chumbá‑lo nas provas de doutoramento, Vasconcellos — que, como a casta universitária, acabou por tomar conhecimento da trapaça — demorou a mostrar‑lhe solidariedade. Nas ocasiões em que Álvaro via Vasconcellos, com a sua húbris de pavão, na companhia dos corruptos que verminavam naquela escola, chegava a execrar mais o fasianídeo do que as cobras.

            Finda a vigilância, Álvaro depositou os exames no local próprio e foi almoçar. Perto da faculdade, havia bons restaurantes e duas cantinas, mas ele afastou‑se, queria comer em paz, longe de ademanes dos académicos.

            Azar. No estaminé que escolhera, encontrava‑se o catedrático Tomás Pereira, homem educado, gentil, autor de pensamento fino e de escrita capaz. Álvaro gostaria de admirar Pereira, mas não conseguia. Este levava muito a sério as regras do verniz e do temor reverencial e, embora no topo da carreira, portava‑se de modo servil relativamente a um macróbio que a faculdade herdara do Estado Novo.

            Álvaro cumprimentou‑o e largou um par de lugares‑comuns. Com Pereira, com a maioria dos docentes que frequentavam o claustro universitário, Álvaro só aquiescia à conversa perfunctória. Não confiava naquela gente, não queria palras que fossem além do estado do tempo e do futebol.

            Tomás Pereira ainda teve tempo de contar a Álvaro que Luís Gomes, também ele professor catedrático, decidira avançar com a candidatura ao posto de diretor da faculdade (considerando o seu grau de antiguidade, Gomes decerto seria eleito, mais ninguém se apresentaria a sufrágio).

            Gomes representava tudo, mesmo tudo, o que Álvaro abominava. Era um indivíduo parolo, inculto, duro da moleira e vil, daqueles que permitem entender a diferença entre imoralidade e amoralidade. Em benefício do seu filho — ainda mais burro que o pai —, havia tentado corromper Álvaro, dizendo‑lhe, inclusive, a nota de que a cria precisava na disciplina a que Álvaro estava adstrito. Como podia esse bronco ter as amantes que tinha, seduzir as mulheres que seduzia? Arranjava‑lhes emprego: dava‑se com pessoas influentes, dispunha de competências de decisão. E cada uma dessas senhoras era uma espécie de Maria Emenda, apodo usado para designar as jovens, procedentes dos arredores de Brasília ou da terra interior, que chegam à capital brasileira com o intuito de se juntarem a políticos poderosos.

            Álvaro voltou à faculdade, esperava‑o uma tarde preenchida por exames orais.

            Os estudantes. Durante anos, foram os que se achavam in statu pupillari, conjuntamente com a prossecução de uma vocação e com a presença de quatro ou cinco colegas que ele respeitava, que soldaram Álvaro à academia. Tempos houve em que se sentira como um pelicano: no seu bico longo trazia a ciência de que se nutria e com a qual alimentava os seus instruendos. Saber que os seus antigos alunos seguiam bem nos trilhos da vida enchia‑o de regozijo. Assim recebia um salário emocional superior ao seu salário real.

            Porém, também esse fator de relação luminosa com a existência e com a faculdade vinha perdendo as cores. Os estudantes que, naquela tarde, prestaram prova oral acreditavam que tudo estava na internet, faziam aprendizagem de vida nas redes sociais. Deu nota positiva a alunos que só tinham bolas de pingue‑pongue na cabeça, mas que responderam de modo mais ou menos satisfatório às perguntas que lhes fizera. Gente na flor dos anos que buscava apenas a gratificação imediata e que nunca saberia usar o que havia aprendido. Raparigas e rapazes imaturos, que vinham consultar as suas provas escritas e corrigidas acompanhados pelos pais.

            No caminho de regresso a casa, Álvaro ouviu as notícias que o rádio do carro debitava. A fim de preencher uma vaga de juiz do Tribunal Constitucional, fora escolhido Manuel Chaves, um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Évora. Engolir essa informação custou‑lhe. Não deve um juiz, mormente em tão alta instância, ser sensato e mentalmente equilibrado? Não deve ele ser dono de clareza no raciocínio? Tudo aquilo que Manuel Chaves, pessoa agitadiça e carecida de senso, não era. Nas aulas, a sua forma de expor a matéria roçava a anedota. A notícia nem parecia crível. O despropósito e o disparate alcançavam outra projeção, saíam da universidade e iam beliscar a Justiça.

            Naquele dia, como noutros dias, corria a tinta da sem‑razão. A academia e o espaço público de decisão achatavam os sonhos de Álvaro, presentificavam‑se os algozes das suas ilusões, individuais e atinentes à comunidade. E ele era incapaz de se mitridatizar.

            As imagens do quotidiano de Álvaro reproduziam o estado do torrão luso. A crise tinha uma importante dimensão moral. A «geração mais qualificada de sempre» não fugia só da vida consignada e da falta de perspetivas económicas, almejava igualmente libertar‑se da ausência de desígnio coletivo, escapar à corrupção, ao contrassenso e à saloiice. Contra isso, o sol e os dinheiros vindos de Bruxelas valiam pouco.

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Paulo Pego
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