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Tinha eu 14 anos, caminhava pela casa com a «Julieta», o meu periquito-fêmea de estimação. Frequentemente, dentro de casa, soltava-a da gaiola. Após esvoaçar durante alguns minutos, a «Julieta» costumava pousar-me no ombro para, de seguida, aninhar-se curiosa no meu cabelo encaracolado. Eu tinha a intenção de mostrar-lhe o céu de Portugal, que por esse tempo, era um país com azul por todo o lado. Talvez ela pudesse fazer amigos lá fora. Decidido, levei-a para o jardim. A «Julieta» ia conhecer a derradeira liberdade. Depois de descobrir o caminho entre um labirinto de caracóis castanhos, lá iniciou ela o seu voo, em direção ao enorme e carinhoso céu azul. Fiquei a ver o meu tesouro desaparecer, na esperança de que ela encontrasse amigos e constituísse uma família feliz.
O tempo navegou. Anos mais tarde, comecei a namorar. Passávamos as tardes de sábado junto ao rio em jogos de sedução e conversas despreocupadas. Numa dessas conversas, abordámos os amigos de estimação das nossas vidas. Ela anunciou então que o seu insubstituível companheiro de estimação, de todos os tempos, tinha sido um periquito-fêmea azul.
— Foi curiosa a forma como entrou na minha vida — disse ela — num dia de céu claro, ela apareceu a voar e aterrou suavemente no meu ombro.
— Que interessante. Tens alguma fotografia? — perguntei eu.
— Sim — disse ela tirando o telefone do bolso.
Depois de examinar as fotografias e quando finalmente consegui falar, chegámos à conclusão de que também as datas coincidiam! Era a minha «Julieta».
A luz do fim de tarde refletida na água sossegada do rio criava uma atmosfera fascinante. Agarrei-lhe docemente pela mão e puxei-a para o relvado dourado. Demos um beijo. Depois começámos a dançar ao som de uma música imaginária. Estava tão feliz por me encontrar no centro de tanto amor. Não era mais um jovem. Senti-me pela primeira vez um homem, que também sabia voar.