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Em 1862 saía a primeira edição do livro “EM HESPANHA, Scenas de viagem”, de Júlio César Machado. Se esta viagem a Espanha, de que Madrid ocupa lugar privilegiado, nomeadamente em número de páginas, tivesse sido feita hoje, de avião, a partir da Portela e não de comboio até Badajoz, seguindo-se a aventura da Malaposta até Madrid, com passagem por Trujillho, Talavera de la Reina e Serra de Guadarrama, Júlio César Machado teria apreciado, sem dúvida, a viagem, mesmo que antes de embarcar, tendo necessitado de ir à casa de banho no aeroporto, se tivesse deparado sem papel higiénico.
Não estranharia. Duvido que no seu tempo houvesse tal coisa. O que estranharia seriam as portas e as paredes totalmente pintadas com a diversidade colorida de… papel higiénico da Renova. Uma abundância. Teria considerado que se tratava de arte contemporânea e não teria estabelecido relação entre estas pinturas e o acto que o levara à casa de banho. Mas a nós, iniciados do papel higiénico, este paradoxo de papel que salta do suporte em que devia estar para as portas e as paredes, só nos pode evocar Magritte e o seu “Ceci n’est pas du papier toilette”, ou, como íamos a caminho de Espanha, “esto no es papel higienico”. Sim, que depois de uma experiência destas, Magritte não voltaria a pintar cachimbos para os negar. Aqui estava, nas casas de banho do aeroporto da Portela, a sua musa, o papel higiénico das casas de banho pintado nas paredes. Antes isso do que outra coisa. Virtual, mas pouco virtuoso.
Saltemos a parte do avião, também bastante surrealista, com uma rapariga vestida normalmente com um blusão Levis e uma véu de noiva, continuando a evocar Magritte: “Esto no es una novia”. Ou seria?
Passemos directamente para a casa de banho do aeroporto de Madrid, sóbria, sólida, honesta, sem grandes aparatos publicitário-artísticos, mais para o cinzento, mas onde o papel higiénico não faltava nos suportes. Aqui teria acontecido a iluminação, quando Júlio César Machado observasse que os coloridos rolos tinham saltado das paredes do lado de lá da fronteira para o lugar apropriado do lado de cá.
Tal não aconteceu, a Malaposta foi parando nos lugares adequados e em outros, para alguma urgência. Como o papel higiénico só apareceu no final do século XIX, terá usado água, trapos, madeira, cacos, folhas, pedras, o que houvesse, embora Rabelais já tivesse aconselhado pescoço de ganso. Enfim… Mudemos de assunto! Ou fiquemos por aqui! A que voos nos conduzem as casas de banho do aeroporto de Lisboa!