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No princípio do ano que começa, gostaria de falar sobre o pai. E quando se fala desta instituição que é o pai, fala-se necessariamente do seu próprio pai. O pai é algo de fundamental na vida de uma pessoa. Dizem os psicanalistas que é o pai que estrutura a personalidade e o desenvolvimento equilibrado da criança. É ele que estabelece a norma, a regra, o limite.
Eu tive muita sorte porque o meu pai estava sempre em casa. Tinha a profissão de alfaiate. Por inerência de ofício, estava sempre agarrado ao balcão para confecionar as vestes encomendadas pelos fregueses. A minha infância foi passada muito perto do meu pai. Era na alfaiataria que fazia os meus deveres. Ao crescer para a vida, posso dizer que tive sempre uma relação de carinho e de admiração para com o meu pai. Aliás, foi esta minha relação com ele na infância que me inspirou o meu primeiro livro.
Mas esses eram outros tempos. Actualmente, a figura do pai vai perdendo o seu papel fundamental
É notória a feminização actual da sociedade e a monoparentalidade das famílias. Há até mesmo uma corrente que rejeita a presença do pai. É caso para perguntar se não estaremos perante uma promoção explícita da “morte do pai”, num processo de destruição dos fundamentos da visão tradicional da nossa cultura tradicional.
O problema é que a criança é a primeira vítima de uma longa cadeia de consequências negativas que afectam a actividade escolar, a culpabilização dos pais, a inserção dos jovens na sociedade e a crescente criminalidade.
Além disso, a actual moda pretensamente centrada na defesa da igualdade do género (a qual tem, em certo sentido, toda a razão de ser), tem sublinhado a oposição homem-mulher, em vez de procurar unir ambos na defesa da família. Talvez esta enfatização da igualdade do género tenha legitimado a ausência do homem no seio da família.
Alguns estudos sociológicos têm apontado as consequências da ausência/expulsão social do pai. Quando um jovem foge e erra fora de casa de uma família monoparental é, de alguma maneira, do pai que anda à procura; quando um jovem entra no caminho da delinquência, está à espera que o pai lhe imponha a norma de não passar o limite da legalidade. A quantos jovens reclusos não teria faltado a mão carinhosa, mas também firme de um pai que vigia e também castiga porque ultrapassou o risco?
A criança vê o pai como aquele que a protege e lhe afasta o medo. Adultos que nós somos, já esquecemos os momentos em que imaginávamos como seria a nossa vida sem a protecção do nosso pai. A psicologia ensina-nos que uma criança, com apenas alguns meses, sabe se o pai está em casa ou não. Ela também sofre quando o pai não é afectuoso para com a mãe. E quando algum dos pais levanta a voz, a criança reage chorando.
Os que têm raízes no meio rural sabem que um tutor coloca-se numa pequena árvore para a amparar e não permitir que se desvie da boa direcção. O tutor é como um pai. É ele que nos permite ser grandes e podermos enfrentar a vida.