No 25 de Abril vivia em Luanda. Tinha 14 anos. As noticias começaram por chegar confusas. À hora de almoço não sabíamos ainda bem se era um movimento libertador ou um golpe da direita do regime. Ao jantar as noticias eram mais animadoras, mas foi já noite dentro, que regressado de uma sessão de cinema (um filme do Cantinflas - humorista mexicano, que pela coincidência jamais esqueci) que ficou claro que a liberdade tinha chegado a Portugal e que lutar por ela seria um dos propósitos da minha vida.
Carlos Zorrinho - MEP
O 25 de Abril foi um dia maravilhoso para a liberdade. Eu nessa altura estava na Espanha, estava desertado do serviço militar.Depois do 25 de Abril, encontrei minha liberdade. Obrigado aos que lutaram por ela.
Amandio Maia
No dia 25 de Abril de 1974 estava em Lisboa, tinha 15 anos, o que me assustava eram os soldados e Tanques nas ruas, não sabia que estava em curso a revolução (a dos capitães) enquanto caminhava Disseram-me que a ditadura acabou, não entendi, perguntei ao meu pai o que devo fazer, fui à Embaixada da Bélgica (Praça Marquês de Pombal) e depois voltei para casa perto de Cascais, uma experiência que nunca será esquecida.
Bruno Joos de ter Beerst
Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, estava num Colégio interno, em Lisboa e ainda deitada na camarata, ouvi, com satisfação ingénua, que não iríamos às aulas no Liceu Mar por ter havido uma revolução. O que me lembro do que mudou a partir de então? Foi passar a ter as janelas do Colégio, sem cadeado, e poder abri-las à vontade. Foi este o 1° gesto de liberdade que me lembro do famoso 25 de Abril.
Graça Sancho
Tive conhecimento do que estava a acontecer pela minha professora de francês , Professora Ercília, na Escola Preparatória Afonso de Paiva em Castelo Branco.
Carlos Gonçalves
Estava na tropa, em Moçambique, acabado de chegar de Portugal, quando um camarada de armas me deu a boa nova "Houve um golpe de estado em Portugal".
Mário Parrot
No dia 25 de Abril tinha 16 anos e deveria ir às aulas, frequentava a escola comercial e industrial Afonso Domingues em Lisboa.
Não fui e acabei por ficar em casa por recomendação, mas os dias após o 25 de Abril Foram vividos intensamente.
João Gois
Exatamente estava à decer as escadas do apartamento. Quais du chantier 17. Quando encontrei o meu amigo Manuel Teixeira , engenheiro. Muito feliz e a chorar disse me, estamos livres , já não somos mais refugiados, Somos portugueses: creio que deveria ser um sábado ou domingo. Pq um português não para de trabalhar e nos encontramos na escada de manhã deveria ser umas 9 h da manhã . Minha filha já tinha 7 meses,eu 24 anos minha filha vai a caminho dos 50 anos e eu vou a caminho dos 75.
Manuel Leites
Na noite de 25 de Abril de 1974, encontrava-me em Santa Margarida, aguardando o embarque para a Guiné. Naquela noite, enquanto estávamos na sala de Cinema, a assistir a uma sessão de "acção psicológica", fomos interrompidos abruptamente. Fomos ordenados a apresentar-nos na parada do aquartelamento, equipados com todo o equipamento militar, para uma operação. Na confusão daquele momento, ninguém sabia ao certo o que estava a acontecer, já que não havia telemóveis nem internet. Passamos algumas horas a aguardar ordem de saída, mas não aconteceu. Entregamos todo o material e voltamos à caserna até nova ordem, não sendo necessária a nossa intervenção na Revolução dos Cravos.
Manuel Araújo
No dia 25 de Abril , estava em Bruxelas, com o estatuto de exilado junto da ONU
Francisco Barradas
No dia 25 de Abril, na creche em França....mas quando cheguei à casa, deparei com os meus pais felizes porque a TV francesa estava a falar de Portugal....pela primeira vez🙏
Emmanuelle ORTEGA AFONSO
No 25 de Abril de 1974 eu estava a dar aulas numa escola da Serra d'Arga .
Jovem como era, não me apercebi de imediato do que estava a acontecer .
Gloria Cunha Fernandes
Estava na Força Aerea en Monsanto Lisboa e corremos com à GNR da RTP en Monsanto +/- as 19h no dia dos cravos viva o 25 ABRIL
Joao Antonio Gomes
🌝Onde e com quem estava, naquele dia? É o que menos importa! Significativo é saber onde estou e o que quero para o meu/nosso futuro, hoje! A celebração da revolução dos cravos, não pode ser revestida de sentimentalismos e nostalgias, que podem ofuscar o ímpeto, de olhar para o horizonte, para aquilo que defacto interessa! Faz lembrar: “Quando o sábio aponta para a lua, há quem fique a olhar para o dedo”! Os nossos jovens, pouco ou nada querem saber desse dia, que também foi noite fria. Eles reconhecem os feitos históricos, as vantagens da democracia e da liberdade. Mas querem soluções para a sua vida: educação, emprego, serviços dignos de saúde, habitação, segurança, justiça... Eles e todos nós temos razões de preocupação, por ocasião da festa maior! Os sinais, que também são factos reais, apontam para um 25 de Abril da Liberdade sim, da Democracia, pois claro, mas carregados de sérias preocupações! Ainda se confunde o cravo, com a rosa; a liberdade, com a libertinagem! Onde e em que estás, nesta celebração do 25 de Abril de há 50 anos?
António Fernandes
No dia 25 de Abril de 74, levantei-me e fui para o liceu. Andava na altura no antigo 5°ano dos liceus e no liceu Passos Manuel. Por mero acaso, nesse dia decidi fazer o caminho mais longo, apanhando o metro até ao Rossio e depois a pé por ali acima. Chegado ao Rossio, foi o espanto total com os tanques estacionados de ambos os lados de acesso à Praça e esta inundada de soldados e público. Foi aí que vi as mulheres que vendiam flores a oferecerem cravos aos soldados e um deles promeiro e depois vários a colocarem-nos nos canos das G3. Os populares gritavam para quem queria ou não ouvir, "É uma revolução! Acabou a ditadura!"
Eu que na altura pouco sabia da situação e do regime, disse para
mim, Mesmo assim, o melhor é ir para as aulas... E lá fui bater com o nariz no portão do Passos e onde encontrei muitos dos meus colegas que se preparavam para ir para o Largo do Carmo onde se tinha abrigado o Prof. Marcelo Caetano...E lá fui também...Lá chegados, o ambiente era tenso e o que se gritava, já era vociferado e com muita raiva. Nessa altura, tive a infeliz ideia de ligar para casa de uma cabine de um café e minha mãe estava em extrema ansiedade a acompanhar os acontecimentos pela rádio e pela televisão, pediu-me para voltar para casa e que meu pai também ia voltar. No regresso, de novo no Metro nasceu na minha consciência a decisão de que tinha de saber e perceber porque é que aqueles acontecimentos tiveram lugar e as suas consequências para a minha vida e para os portugueses, mas tudo isso é uma outra história...
Manuel Estevens
Viam-se flores, cravos vermelhos. Os meus irmãos, de tenra idade na altura, passaram a tarde a fazer flores de papel vermelhas, à mingua de cravos, para dar aos soldados.
O meu pai surpreendia-se por tudo ter virado tão depressa, enquanto a população dormia. Afinal as conversas que dominavam as nossas refeições tinham sentido e tinha sido possível por um ponto final a tantos anos de escuridão.
Ao longo dessa 5. feira, lembrei-me muito de Prof. Cintra e da aula que ele nos poderia ter dado nesse dia. Que contudo existiu: diferente, essencialmente prática, fora da sala de aula, mas aplicando toda a teoria que nos tinha ensinado a gostar.
Quando voltei à Faculdade, o ambiente era outro. Festa, sem dúvida, mas também de justiça. Contra aqueles que no meio de nós, nos tinham denunciado à PIDE.
E no meio de todos, lá estava o Professor Cintra, Preocupado, como sempre, mas desta vez com um "brilhozinho nos olhos" que tornava o seu semblante menos carregado. Rodeado de alunos. E amigos. À vontade, que os ajuntamentos já não eram atentados contra a nação. Nunca mais.
Maria Ester Vargas
No dia 25 de abril de 1974, e no preciso momento em que fui informado do feliz acontecimento, estava eu nos bancos da Universidade, em Louvain-la-Neuve. O meu amigo, Philippe Godard, diz-me: “sabes que houve uma revolução em Portugal?” Regressei logo a Bruxelas e comecei a contactar os meus amigos, também aqui refugiados políticos, e a telefonar para Portugal. Nem queria acreditar, mas era verdade! Daí para a frente a minha vida mudou!
Joaquim Tenreira Martins
Cheguei a Portugal em setembro de 1974. Fui recebida por um país frio, cinzento e hostil.
Estava na escola em Münster (Alemanha), tinha 14 anos e os professores chamaram-me atenção que em Lisboa as pessoas juntamente com militares saíram à rua para protestar contra a ditadura, a favor da liberdade.
Nelson Rodrigues
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Noites de inverno
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Quantas vezes nas noites de inverno, tinha que me levantar porque chovia na cama e as noites eram tão frias, que me cobria com velhas mantas. A minha avó mudava a roupa da cama, enquanto as panelas espalhadas pela casa apanhavam para apanhar os pingos pingos da chuva. Quando estavam cheios de água da chuva, eram despejados por uma janela. se despejava a água da chuva.
Às vezes perguntava à avó se a casa não precisava de um telhado novo, mas a resposta era sempre a mesma, para podermos comer não posso mandar mudar o telhado. Assim se foram passando os anos até ela poder juntar dinheiro para pagar um telhado novo. Comecei a sentir saudades dos pingos da chuva a bater nas panelas, estava habituada a adormecer com o som da chuva. Grandes noites de inverno se passavam na casa da minha avó, ouvia os relâmpagos que iluminavam o céu e o interior da casa.
As cabras baliam na loja porque sentiam medo.
Ouvia a voz da minha avó: “travos” ide para o monte maninho onde não haja pão nem vinho.Acendia uma vela e rezava em voz alta, às vezes que medo sentia, pois ouvia a força das águas no ribeiro que passavam perto da casa. Um ribeiro pequeno mas nas noites de temporal, a força da água fazia-se ouvir em toda a casa. Dormiam em colchões de palha, com candeeiros a petróleo. enquanto eu escrevia junto à lareira, muitas coisas eu lia para a minha avó. As histórias que ela me contava eram de arrepiar, dizendo que espíritos nos podiam ver. Tantas vezes respondi você quer que eu fiquei acordada com medo, debaixo das velhas mantas me escondia. Com a chama do candeeiro de petróleo a bruxulear, quando o vento entrava pela casa, tinha a sensação de que via sombras.
Fizesse chuva ou bom tempo, era assustador ir até à aldeia vizinha durante a noite com um candeeiro de petróleo na mão. Tantas vezes pedi à minha avó para não ir para sua casa durante a noite.
Via as sombras dos ramos das árvores que pareciam enormes e não sabia onde metia os pés quando caminhávamos. Avó mas porque temos que vir sempre pela noite dentro? Naquele tempo as pessoas nunca se deitavam antes da meia noite. A avó respondia que não podíamos vir mais cedo porque ela trabalhava. Dizia ainda que eu podia regressar a casa até ao pôr-do-sol.
As suas histórias do passado causavam-me medo quando estava sozinha em casa. Antes queria ficar com as cabras na loja do que em casa sozinha.
Para a minha avó as minhas palavras faziam que ela desse gargalhadas e dizia nunca deves ter medo pois és uma criança generosa e forte e todos os obstáculos tu irás ultrapassar na vida.
Vais ter que saber lidar com eles.
Tantas vezes a minha avó me disse estas palavras, que até parecia conhecer o meu destino.
Porque nesta vida tenho lutado muito.
Luso.eu - Jornal das comunidades
Author:Rosa PereiraEmail:This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
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