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O café, bebida de aroma único, elegante e doce, de sabor e efeito estimulantes, foi adoptada por toda a classe intelectual do nosso país durante as últimas centenas de anos. À sua volta, muitas vezes envoltos em nuvens de fumo de charutos, cachimbos, cigarrilhas e cigarros, foram compostos poemas ainda hoje ditos, escritos romances ainda hoje lidos, discutidas ideias e opiniões, e tecidas conspirações.
A dada altura, apareceu uma máquina que revolucionou o seu consumo. Após uma entrada lenta e titubeante, o café expresso, como passou a ser primeiramente conhecido em contraponto ao outro café, o café de saco, tomou as rédeas do consumo até que se popularizou de tal forma, que passou a ser, ainda mais, uma bebida de todos e para todos, banalizando-se o seu uso após as refeições ou a qualquer hora do dia.
Na cidade do Porto, e por obra e graça do Sr. Porfírio, deram-lhe o nome de Cimbalino uma vez que quase todas as máquinas usadas eram da marca La Cimbali.
A partir do final dos anos 80 do século passado, o nome começou a cair em desuso. O nome Cimbalino adoece e tende a perecer devido à voragem da globalização dos termos e, quem sabe, se à concentração e colonização verbal, bem assim como à disseminação dos termos considerados “bem”, com a consequente ablação dos restantes.
Nas minhas andanças pela vida e nas minhas defesas do que é genuinamente nosso, sejam eles termos ou coisas, sejam eles da minha região ou do meu País, cheguei até a ouvir dizer, que dizer “cimbalino”, tal como outros termos característicos da minha cidade, era provinciano, separatista, regionalista no pior sentido, e que não me ficava nada bem.
Dessa forma, a venda de café à chávena na nossa cidade perderia em poucos anos o simbolismo que a diferenciava do resto do país.
Nasci para o conhecimento da vida com o Cimbalino. O nome nasceu tinha eu menos de cinco anos, e não gostaria de morrer sem o ver reabilitado.
Mais do que um regionalismo ultrapassado, pedir e beber um Cimbalino é um modo de vida que as gerações novas da nossa região não conhecem e pouco se importam com isso.
Importa pois, mudar esse estado de alma.
Conviria encetar uma campanha para restituir ao Cimbalino a estima pública, e o seu uso como marca da cidade.
Podíamos começar por frases publicitárias em Mupis espalhados pela cidade, para habituar o consumidor e para convencer os proprietários de cafés e restaurantes a mudar a nomenclatura, transferindo com isso esse convencimento às marcas da bebida.
Não sendo eu um publicitário, atrevo-me a lembrar algumas frases que poderiam servir como incentivo; “Um Cimbalino se faz favor”, “Tenha tino, peça um Cimbalino”, “Mas que desatino, vou beber um Cimbalino”; e por aí fora num chorrilho de frases publicitárias, por certo que umas mais bem conseguidas que outras, que despertassem o interesse dos nossos concidadãos.
A Câmara, as nossas Juntas de Freguesia, as nossas rádios, a nossa televisão, e os programas de outros canais de televisão feitos a partir do Porto, bem assim como os nossos escritores e comentadores, terão também uma palavra a dizer sobre o assunto, ajudando nesta campanha que tem de ser de todos nós.
Todos juntos não seremos de mais!
José Fernando Magalhães
“- Por decisão do autor, este artigo encontra-se escrito em Português, e não ao abrigo do «novo acordo ortográfico».”